quinta-feira, 26 de março de 2015

Tomas Tranströmer

Estocolmo, 1931-26 Março 2015
Poeta, tradutor e psicólogo sueco

PÁSSAROS MATINAIS 

Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.

2 comentários:

  1. Um poeta diferente que gosto de ler. As suas palavras ficam para sempre.
    Um beijo, Vera.

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  2. Confesso que não o conhecia, apenas de nome. E identifiquei-me imenso com o seu universo de escrita, cheio de coisas do quotidiano, a encontrar e a criar poesia no que é mais simples. Hei-de lê-lo mais e melhor.
    Um beijo para ti, Graça.

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