As
três folhas amarrotadas pelo uso das mãos, as mãos revelando os
primeiros indícios da idade, a
idade nas veias, pequenos
riachos de águas inchadas, azuis, estendidas na planície da pele,
os dedos
magros, o lugar vago da aliança, para sempre vazio, uma
vaga aberta e inútil, agora
que ela se vestia de luto, para dizer adeus ao seu primeiro amor.Os
olhos inchados lendo, a
custo:
«
– Quando formos adultos e casarmos…
Tu
interrompias-me, Sara, como quem afasta uma tragédia, a testa
franzida, os olhos bem abertos:
– Casar
contigo?! Nem morta!
Para
nós não havia futuro, dizias. Teimavas em lembrar-me que era
temporário, insistias em não acreditar em nós, neste futuro que
foi chegando. Não estamos aqui? Não chegámos até aqui? Se estás
a ler esta carta, sabes que já é futuro e nós continuamos aqui. O
tempo não conseguiu silenciar-nos. Só a morte é capaz de calar
para sempre.
(...)
(...)
Cada
vez que me punhas de parte, a tua vida sem mim era para sempre. Era
sempre para sempre. Mas fraquejavas sempre. E também na
reconciliação eu conquistava a prova de que não podias viver sem
mim.
Depois
veio a vida e ensinou-me que afinal podias. Mas isso foi depois.
(romance em construção)