quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Em mim

Porque este meu primeiro livro de poesia faz hoje 3 anos, deixo um dos poema escrito no alpendre, à mesa de um café ou junto do mar.
Em mim
«Se acreditar em mim, sonho.
Se sonho, levito.
Se pouso os meus pés, luto…
Mas não venço.
De luto, perco a fé em mim —
—  A arquitectura dos meus projectos.
Sem alicerces que me segurem,
Vou flutuando, saindo de mim;
E de tanto perder, resguardo-me em quimeras,
Acreditando, sem fé,
Sonhando, sem noite.
E tenha, ou não, no peito a confiança,
Só a dança do sonho existe em mim.»
(in Fora do Mundo, Poética Edições, Novembro 2014)




terça-feira, 28 de novembro de 2017

Christmas Three

Este é o meu trio mais recente, pois o Natal está aí e já estamos em modo natalício :-)
Se quiserem contratar-nos, é fácil, basta um primeiro contacto para:
nanasousadias@gmail.com
veravilh@gmail.com

EnJOY e Boas Festas!


Aos escondidos

De tanto adiar a escrita da trilogia, dedicada a outros projectos, os personagens da 2º volume d' «A Ilha de Melquisedech» esconderam-se de mim. E agora, encontrá-los? Um sarilho. Procuro pela casa, vasculhando os potes da cozinha, as cestas, as fissuras da pedra, os tachos e panelas de cobre, suspensos do tecto, em gavetas, arcas e gavetões, entre as camisolas de inverno, mantas e cobertores - não vão eles ter sentido um frio abandono que mais parece desamor... mas os malandros continuam bem escondidos. Terei de lhes pegar com  jeito, levá-los com falinhas mansas, torrões de açúcar e mezinhas caseiras,  para que venham até mim como corças num bosque desencantado. É sempre assim, ficam ofendidos pela espera e com razão: Sukkar, o duende de Hidromel, Furfuris, o ajudante do moleiro Grotti, as ondinas, que há muito não visitam a superfície do Lago dos Segredos, adormecidas nas suas grutas de cristal; Mnemina, Evangelina, Zacarias, Aracne, Scribendi, Graziela, Rigoletto... todos permanecem em silêncio, amuados, até o corcunda Ratatosk, exilado na Ilha de Nullius.
Mais me envergonha a forma como tratei as novas personagens, que mal haviam começado a ver contada a sua história, quando as deixei paralisadas num gesto, como injusta  maldição: Mutatis, nascido no Outro Mundo, os espantalhos Iratus, Rusticus e Pertinax, e os humanos Benjamin Somers, Katherine e Rosemary Doolittle, Sr. Alfa e Sr. Beta, Cécile Picard, Francine Clément, Marie e Olivier La Fontaine, os irmãos Carlos e Luis Asunción e até uma família de Sintra, em Portugal, que irá participar nesta aventura. Do vilão que dará nome ao segundo volume nem me atrevo a falar, para já, não vá ele amaldiçoar eternamente esta trilogia.
Mostrem-se! A vossa espera terminou. Estou pronta.
Roubei a imagem aqui

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

domingo, 26 de novembro de 2017

Black Mirror

Comecei este fim de semana a ver mais  uma das famosas séries produzidas pela Netflix: Black Mirror. Este série é surpreendente e deixa-nos francamente preocupados. Creio ser esse o objectivo principal dos criadores: pôr-nos a pensar. Neste video, é feita uma análise a um episódio em particular, com um tipo de realização à parte dos restantes, luminoso e leve que, na verdade, nada tem de "light".
Os episódios são independentes e os cenários e realização, casting etc distintos, como uma caixa de chocolates sortidos. Uma série a não perder. Não se assustem com o primeiro episódio, que "é muito, muito fora", avisou-me o meu filho. Vi apenas três e já me conquistou.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Gota a gota

Entregar o número da revista de Dezembro e começar, desde logo, a receber material para o número de Janeiro oferece-me um consolo e um amparo só entendidos por aqueles que, tal como eu, andaram muitos anos na esperança de encontrar trabalho de semana em semana, de mês em mês, como quem procura moedas perdidas nos bolsos, nas gavetas, sob os escombros das suas duvidosas opções de vida, escolhas menos certas, que os levam ao engano da fantasia que jamais se cumpre. De vez em quando, um balão de oxigénio, para de novo tombar no deserto. Outras vezes, um aguaceiro, chuvas caindo de repente, com abundância, a tornar quase impossível a gestão do tempo. E agora isto, a bênção de um trabalho em água corrente - ainda que em fina torrente -, um alívio, poder cumpri-lo a partir do meu "escritário", o mundo virtual a fazer a magia de anular o tempo e a distância. Dia a dia, gota a gota, um ofício que posso desempenhar por bons anos ainda, com a saúde que me resta.
É no mínimo irónico alguém ter como novo ofício a Revisão, depois de perder a visão de um dos olhos. Lembra-me um homem de uma perna só, empregado numa fábrica de próteses, um surdo numa academia de música, um maneta malabarista. É preciso sabermos brincar, não é? Rir do que não tem graça. Para que passe a ter. E, em especial, não esquecer a gratidão. Essa tenho de sobra, para com os anjos, como a chuva matando a fome da terra.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Terra seca

Encouraging Women in Their Journey of Faith
O chão queima, não consigo pousar, diz um anjo. A terra murcha, à sede, a ameaçar-lhe as asas com o hálito febril. O solo já coberto de anjos caídos como folhas secas. O choro deles vai compondo serpentinas invisíveis - hoje há vento, dizem os cegos - e só alguns conseguem ver: sonhadores  furtivos caminhando sobre o manto estaladiço, em busca de sonhos quebrados que possam bordar, no tecido do tempo, e usar ao peito; sonhos em segunda mão, flores remendadas na lapela gasta de um mendigo. Talvez um dia sejam, também eles, anjos na terra. Talvez seja possível pousar num amanhecer, sem se tornarem cinza.