Quando pensamos que todos os livros de auto-ajuda já foram escritos, eis que descobrimos um autor (Alain de Botton) que decide usar a Filosofia como pano de fundo. "O Consolo da Filosofia" é um livro divertido, surpreendente, estimulante e instrutivo, que nos faz viajar ao longo de 2400 anos, através de diversas correntes filosóficas, para nos revelar argumentos, parágrafos e mundanidades de 6 filósofos em particular. Filosofias aparte, aprendi que Sócrates era muito feio, cheirava mal e vestia-se com a mesma capa durante todo o ano; andava quase sempre descalço, tinha uma mulher com um péssimo feitio, gostava de abordar as pessoas ao final da tarde e que, no dia da votação em tribunal, perdeu para a taça de cicuta por uma pequena margem, pois os votos contra foram de 56%, de um total de quinhentos jurados que não passavam de velhos reformados e feridos de guerra, que ali estavam para animar a sua rotina e ganhar uns ébolos extra. Ao escutar o veredicto, Sócrates comentou: "nunca pensei que a margem fosse tão estreita" e bebeu a taça de veneno na presença dos seus amigos (Fédon relatou cada pormenor), dizendo estas últimas palavras ao grupo que chorava sem poder conter a sua tristeza: "Que modo estranho de se comportarem, meus estranhos amigos!"
Aprendi que Epicuro devotou a sua vida à procura do prazer: comer, beber, fornicar, estar rodeado de amigos e que, na sua época se formaram "escolas para o prazer" na Síria, judeia, Egipto, Itália e Gália; e que, tendo fama de glutão, encontrava prazer no simples acto de se alimentar com "água, pão, vegetais e um punhado de azeitonas" e que escreveu a um amigo; "manda-me um queijo, para que possa fazer um festim"; que construiu um pomar e uma horta com uns amigos, para cultivarem os seus próprios alimentos, para comer pouco, mas bem.
Aprendi que Séneca, que havia sido tutor de Nero, teve a benesse de umas férias de três anos no campo, para escrever sobre a natureza, enquanto esperava serenamente a ordem de morte, que se anunciava, da parte do imperador louco e cruel, que aos 28 anos já mandara matar a mãe, Agripina, o meio irmão Britânico, Octávia, a sua mulher e um grande número de senadores e militares que lançava aos leões e crocodilos; que Séneca desejou morrer como Sócrates, que tanto admirava, mas que o seu médico o enganou, dando-lhe a beber algo que por duas vezes não fez qualquer efeito; que a sua mulher Paulina, em desespero, cortou os pulsos, mas foi socorrida por centuriões que lhos ligaram, salvando-a; que o filósofo "pediu para ser colocado num banho a vapor, onde sufocou até morrer. em tormento, mas com serenidade, imperturbável perante as perturbações da Fortuna". Já não há heróis destes. Já não se vive nem se morre assim.
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