Na véspera do final de umas férias maravilhosas no sul de Espanha, surripiei este livro à Teresa e li-o de enfiada, para o devolver a tempo. Tal como Firmin, o rato, troquei a comida pelos livros, abdicando de doses de conquilhas, salada de tomate com orégãos, copos de vinho branco e taças de nozes com chantilly e caramelo, para ficar na praia, a ler a sua história:
É o 13º de uma ninhada de treze e os seus irmãos apropriam-se dos doze mamilos da mãe alcoólica, deixando-lhe apenas algumas gotas de leite com um sabor esquisito. Vivem instalados numa velha livraria e Firmin, que ao contrário dos irmãos anafados é franzino e frágil, começa a comer livros para sobreviver. Um dia descobre que consegue descodificar as palavras que eles contêm e opta por se limitar a comer as margens, arrependendo-se de ter destruído algumas obras, com o seu apetite. Então passa a devorar as palavras, em vez do papel. Aos poucos, o cérebro vai-e desenvolvendo à conta das muitas leituras, a ponto de Firmin se considerar, por vezes, humano. Lê os clássicos, tratados de filosofia, manuais técnicos, tudo o que encontra. Firmin é um rato solitário, romântico e sonhador. Deseja amar e compreender os humanos. Ama as belas mulheres e anseia por fazer amizades. Cinéfilo apaixonado, espreita todos os filmes do Rialto (inclusive os pornográficos) e imagina ser Fred Astaire, dançando com Ginger Rogers.
Esta novela deliciosa, em jeito de fábula, é, ao mesmo tempo, engraçada e trágica. Sam Savage disse numa entrevista que vai continuar nas "short stories", pois, com a saúde que tem, não pode dar-se ao luxo de iniciar um projecto que pode demorar anos a terminar. Depois de ler este livro MARAVILHOSO, só posso desejar que viva por muitos e bons anos, para nos abençoar com novos livros. Sam Savage é doutorado em Filosofia, pela Universidade de Yale, onde leccionou por pouco tempo, para se dedicar a outras actividades: trabalhou como mecânico de bicicletas, carpinteiro, pescador e impressor tipográfico. Aos 65 anos, estreou-se com "Firmin" e alcançou rapidamente um enorme sucesso nos EUA, Espanha, Brasil e Itália, tornando-se um símbolo da paixão pela literatura. Esta novela foi publicada por uma pequena editora de Minneapolis, fora dos grandes circuitos editorias de distribuição, o que não impediu o seu grande sucesso. É bom saber destes pequenos milagres. Obrigada, Teresa!
Fiquei convencida e "apaixonada" por esse ratinho devorador de livros:)
ResponderEliminarBeijinhos.