"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva. À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade."
EÇA DE QUEIROZ, in 'Distrito de Évora (1867)
Desenho de João Abel Manta encontrado aqui:
Sempre oportuna e visceral.
ResponderEliminarPor mim agradeço.Pena é que estas coisas se fiquem num espaço restrito, blogueiro.
Lindo, só como Eça seria capaz de descrever.
...isto para além da sua sarcástica alusão: " na reconhecida necessidade de mudar de políticos, com a mesma frequência, que a aplicada à mudança das fraldas de bébé..."
Como é sabido, o problema de facto, é que mesmo mudando as fraldas, na maioria dos casos, salvo raras excepções, o cheiro persiste!
Ainda sem resultados finais das eleições de hoje, atrevo-me a dizer que o "partido da abstenção" será possivelmente o maior, ou pelo menos o segundo maior...
Os políticos em primeiro lugar, e depois todos nós, "o povo" temos de reflectir, despertar e considerar que a democracia não se esgota no voto.
Direi como disse o Zeca, "o que é preciso é agitar a malta"
Zé
Ainda para te sugerir uma saltada ao meu blogue, agora com novo design e música, sem ser a que vamos monocordicamente, suponho, continuar a ter de escutar...
ResponderEliminarBeijos,
Zé
Ainda a propósito deste tema...
ResponderEliminarAcabei de postar um contra-ponto ao texto do Eça, com um texto exemplar do Eduardo Prado Coelho. Espero que gostes.
Julgo que é liquido, agora, com os resultados finais das eleições de ontem, dizer: A abstenção é o maior partido. (estou filiado, desde as Europeias!)
Zé
C