Aos sábados de manhã, depois do pequeno-almoço, gosto de sair de casa para ir a Ribamar comprar o jornal e beber um segundo café. Apesar de ter saído do concelho de Lisboa há mais de três anos, não deixo de apreciar o contraste dos pequenos gestos do quotidiano: acho piada ao senhor que limpa os vidros ao pé de mim, enquanto eu bebo uma água e folheio a revista que vem com o jornal. Gosto daquele cheiro a limpo, da atmosfera que se respira, familiar e desprendida. A televisão baixinho, sussurrando-nos coisas do nosso país. Saco de uma folha da EDP (daquelas que não servem para nada e às quais não damos atenção, senão aos códigos do multibanco e à data limite de pagamento) e escrevo no verso, em branco. Não escrevo versos em branco, não, mas sim esta crónica. A dona do estabelecimento ergue a voz para falar com o marido e ele censura-a, com ar respeitoso, Fala mais baixo, que a menina está a escrever! –, Como se eu fosse Hemingway, Sartre ou outro qualquer mestre da literatura, e aquele o Café de Flore, no Quartier-Latin, abençoando o nascer de uma obra eterna. Percorro as ruas discretas e ensolaradas, o sino da igreja toca, os cães ladram, os habitantes cruzam-se no passeio e dão dois dedos de conversa. Um concelho que ainda é aldeia, com muito do conforto de uma metrópole. O melhor de dois mundos, como um Eldorado
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