domingo, 21 de fevereiro de 2010

Filosofices III

Se eu voltasse a ser uma criança, havia de querer fazer uma série de perguntas que na altura não me ocorreram. Agora que sou crescida, até parece mal, mas mal que pergunte...
Porque é que aplicamos a expressão “proferiu estas palavras”, a qualquer pessoa que fala? Não acham que o verbo "proferir" devia ter uma tabuleta a dizer “reservado a profetas”? Ou quer dizer que, só por falarmos, somos profetas? Eu proferia que respeitassem mais os profetas.

Arvorar é plantar uma árvore? Alvorar é apontar ao alvo? É que há coisas que parece que são, mas depois não são, não vale, como a palavra bucólica, que parece uma cólica de susto. Bu!-cólica.

Se engomarmos um relógio, podemos dizer que estamos a passar o tempo?

Os supositórios não deveriam chamar-se antes ANALgésicos? E os supositórios, suponhamos…púnhamos na boca ou no nariz, por exemplo.

Desfrutar, é arrancar os frutos às árvores? E desmanchar, é tirar a nódoa?

Porque é que um desmancha-prazeres é aquele que dá cabo deles? Não deveria dizer-se, em vez disso, mancha-prazeres? Senão, lá está, parece que é alguém que tira a mancha aos prazeres. Não acham isso esquisito? É o que está a dizer, ou não é?
E se eu não sofrer de incontinência, significa que sou continente? Então e se um militar fizer continência, significa que segura o xixi que nem um valente?

Se trautear uma canção é cantarolá-la em lá-lá-lá, então porque é que não usam o verbo Lalalar, que é muito mais adequado? Trau, parece que está a dar porrada à canção, não parece? Bom, em muitos casos isso é verdade, lá isso…lálálá...

Se eu disser que me estou a lixar, quer dizer que me estou a enfiar no caixote do lixo?
- Olha, VAI-TE LIXAR! Sim, é um insulto suficientemente mal cheiroso, desejar ao outro que se atire para dentro de um caixote com cascas de cebola, pontas de cigarro e lenços ranhosos. Bem feito.
Pronto, isto era o que eu perguntava se fosse criança, mas agora sou crescida, já não dá.

8 comentários:

  1. Muito giro! Afinal até dá... só que ninguém responde... bj

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  2. não faz mal, estão recheadas de retórica. É para ficarem assim mesmo, no ar, como as bolas (salve seja) de um malabarista :-) Beijos

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  3. Maria João Craveiro Lopes22 de fevereiro de 2010 às 01:57

    Giríssimo Verinha!!!
    Inspiração não te falta, nunca faltou...
    Beijinho grande e parabéns por tudo isto!

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  4. Mas que bom ter a honra da sua visita por aqui! Muito obrigada, querida João! Aproveito para dizer, a pedido de outros "blogueiros", que para encontrarem as Filosofices I e II basta fazerem a busca no canto superior esquerdo, ou clicarem na etiqueta "Filosofices". Um grande xi-coração para si. Fico mesmo feliz por sabê-la aí, desse lado.

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  5. Ó Vera
    Adoro estas filosofices.
    Também tenho algumas, depois lhas conto...
    Estes trocadilhos, são uma graça.
    Continue...

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  6. Obrigada, Bé, estas filosofices bem-dispostas só podiam ir ao encontro de um espírito bem-humorado com o seu! Um grande bem-haja para si e devo dizer que as suas couves carnavalescas fizeram uma sopa deliciosa! Hmm...:-)

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  7. Olá Vera! Sou a Stella. Tomei conhecimento deste seu blog através da “Mafra Hoje” e a partir de agora, de vez em quando, venho aqui cuscá-lo. É um blog "à séria" e com coisas interessantíssimas. Não posso deixar de a felicitar pela graça e imaginação com que escreveu estas “Filosofices III”. Está engraçadíssimo! Duvido é que alguma vez encontre respostas para tais perguntas...

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  8. Cara Stella, muito obrigada. É engraçado ver como as pessoas se identificam com géneros de textos tão diferentes: uns com versos, outros com os meus devaneios mais românticos, outros com as pequenas ficções para crianças e gente bem-disposta. Muito obrigada por me ler, espero continuar a merecer as suas leituras. Pode "cuscar" à vontade! :-)
    Com amizade,
    Vera de Vilhena

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