quarta-feira, 28 de abril de 2010

Obrigada

Para aproveitar mais um dia surpreendente de verão antecipado, afastei-me deste computador, peguei no manual de Escrita Criativa e nos apontamentos e fui para junto do sol preparar o curso e a pele. Ao fim da tarde, fui raptada por uma amiga que me levou a comer uma salada junto à costa e me levou para a areia, onde um S. Bernardo se banhava, nas águas de um pequeno braço do rio, que resolveu atravessar a praia depois dos temporais.
Regressada a casa, fiz carne de porco guisada com favas, acompanhei-me com dois copos de vinho branco e, espantada, fui ver esta lua maravilhosa que se postou sobre a paisagem. Há várias noites que os pássaros cantam, na semi-obscuridade, sem que o seu canto faça sentido. A lua, que parece ter engordado com o meu guisado, está tão inchada, que ilumina o vale inteiro, até à linha desordenada de pequenas luzes cor-de-laranja, que anunciam a cidade, ao fundo. O canto das aves é diverso, são vários bandos, aqui e acolá, e juntam-se ao croachar das rãs e ao pio da corujas. Parecem celebrar as noites inesperadas de verão, que empurram a memória do frio tão recente e já tão longínquo.
Interrompi o visionamento de alguns episódios da série antiga de Sherlock Holmes, para beber de um trago este cenário que encontrei no terraço, ao sair para libertar os cães. Escrevo na quase obscuridade, para não perder o luar que inunda o meu escritório. Uma noite generosa, perfeita, que me faz erguer os olhos ao céu e murmurar, Obrigada.

Sem comentários:

Enviar um comentário