Estou certa de que o sol - longe de ser apenas uma luz quente que nos enferruja a pele - é também uma espécie de tónico para a alma. O que nos rodeia fica mais belo, os problemas mais pequenos, o corpo mais ágil. Sol e vento, os dois de braço dado, são forças opostas que oferecem equilíbrio ao calor. Hoje o meu filho perguntou-me
- Mãe, de onde vem o vento?
Não lhe soube responder. Não tenho respostas científicas para explicar o mundo, por isso disse-lhe que eram os deuses que bufavam de tédio, por não haver nuvens no céu. Ele sorriu, com ar condescendente, por ter uma mãe que não é normal. Depois foi para o pinhal e para junto dos eucaliptos e eu enfronhei-me nos "Sinais de Fogo" de Jorge de Sena, no baloiço, tapada com a manta de quadrados. A uns metros, o Chico, preso à corrente para não saltar o muro, gania baixinho, a querer ir ter com o Gugas; o Gastão ficou a roer um tronco no chão, ao meu lado. A fazer-nos companhia, estavam os deuses Bóreas e Zéfiro, num diálogo hesitante, ora zangado, ora ameno. O Gugas voltou, corado, a cheirar a eucalipto e a resina. Descascámos amendois e bebemos sumo de pera, enquanto os cães comiam as cascas e os corvos grasnavam ao longe. À noite, depois de uns ovos mexidos com farinheira e uma espetada mista grelhada, vamos ver o "Moulin Rouge". Foi um bom sábado.
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