quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Nostalgias

3 comentários:

  1. Viva Vera! Como está?
    Um Grande Ano para si e todos os seus.

    Passadas as Festas e entrados na normalidade de mais um ano que ainda é novo, não consegui cumprir com o prometido e, entre vindas e regressos a África, o tempo foi escasso para a família e todos os amigos com quem gostaria de estar. Mas é precisamente para casos desses que se inventou a escrita: … Se não podes falar então escreve! …
    Fácil não é? Bem, mas como não estou em Portugal e as noites em África, agora no Senegal são enormes, hoje impus a mim mesmo a disciplina de escrever, ou antes, ler primeiro os blogues dos meus amigos e depois partilhar com eles aquilo que me tocou. Fiquei estarrecido. Nas últimas semanas o pessoal produziu coisas muito engraçadas e a necessitarem urgentemente de comentários. Fiquei a sentir-me um indivíduo cheio de sorte pois a produção e a qualidade dos ‘posts’ (não sei se é assim que se escreve) desta rapaziada tem sido formidável.
    Por isso, quando tropecei no seu ‘Casarão’ vieram-me à ideia tempos passados, vivências e pessoas que já nem sei se existem. Nostalgia é nostalgia e sem dúvida que é transversal às gerações. Todos nós, à invocação de determinados assuntos, situações, recordações nos sentimos como que de novo aninhados no colo materno. Sentimento de saudade, sentimento indefinível, mas que eu gosto, e muito. Posto isto, então vamos lá ao ‘Casarão’ e às lembranças que me trouxe.
    Das minhas recordações mais antigas destacam-se as visitas que fazia com o meu pai a casa do meu avô em Queluz, já lá vão cinquenta e tantos anos. Era uma moradia já antiga mas aos meus olhos de criança enorme. Um autêntico ‘casarão’. Fachada rectangular da década de 20 ou 30 do século passado, corredor ao meio e de ambos os lados as divisões a desfilarem: sala, quarto, casa de banho e despensa, do outro lado, sala de cabeleireira da minha avó, a sala de jantar, a cozinha e depois um quintal. Ao fundo, um galinheiro desabitado de aves e atafulhado de coisas velhas. Uma arrecadação sempre de porta fechada e uns canteiros depenados de tudo o que fosse verde, compunham a decoração daquele ar livre.
    Um dia, domingo depois de almoço, eu, o meu pai e a minha mãe apanhámos a camioneta da Eduardo Jorge para Queluz; destino… casa do Saul de Souza.
    Quando lá chegámos, soube da razão da visita: na sala de jantar metida num móvel com quatro pernas, uma espécie de telefonia com um vidro na frente. Era uma televisão. O meu avô com um ar de António Silva, ligou o aparelho, rodou os botões e eis que a televisão começou a mostrar num ecrã a preto e branco uma chuva tremenda. Claro, era de tarde e naquela altura a televisão começava à noite.
    Mas ficámos ali todos a olhar, pasmados, para aquela caixa parecida com um aquário. Só ao fim de um bocado o meu pai perguntou a que horas começava a emissão; o meu avô com ar conhecedor esclareceu que antes da emissão havia a mira técnica. Eu não sabia o que era mas achei que devia ser importante para o meu avô falar nela.
    Lembro-me de ver a tal mira técnica e de ter ficado desiludido, mas fiquei maravilhado com a abertura da emissão e o hino da RTP. Do resto, só me lembro que depois de ter começado veio uma coisa que se chamava interlúdio e que era uma praia com as ondas a rebentarem; ao fundo ouvia-se música.
    A minha vida não mudou nesse dia, mas o mundo português estava a entrar numa época nova, e a vida das famílias iria mudar irremediavelmente por culpa daquele electrodoméstico malvado que nos agarra e escraviza de forma impiedosa.
    E pronto, veja só até onde me levou o seu casarão, mas foi um prazer comentar o seu post. Sem ser revivalista gosto de relembrar coisas. Na minha opinião, manter vivas as nossas recordações, ajuda-nos a viver melhor. São as recordações que nos servem de raízes e nos alimentam a vida presente.
    Um abraço e uma vez mais grato pelo seu ‘Casarão’.

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  2. Esqueci-me de assinar o meu comentário. Aqui vai:

    Mário de Sousa
    Dakar, 30 de Janeiro de 2011

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  3. Viva Mário!

    Mas que bom receber notícias suas, sempre com esta assinatura intemporal, numa forma de correspondência que anda quase desprezada!
    Fico feliz por saber que o meu "post" (sim, escreveu o plural muito bem) suscitou tão gratas recordações em si. Que maravilha, o que me conta! E pensar no que os miúdos têm agora... é melhor nem comparar.
    Tomei a liberdade de preencher em "comentar como" o seu nome na opção "Nome/URL", pois assim não surge como "Anónimo", se bem que a assinatura final, para mais com a sua localização distante e data são sempre bem vindas e reforçam essa natureza intemporal das suas "cartas": sim, o que o Mário escreve excede, em muito, o mero comentário e essa é uma das razões porque fico feliz a cada vez que tenho o prazer da sua visita neste cantinho virtual. Folgo em saber que conta com outros amigos que lhe vão enriquecendo os dias através dos respectivos blogs.
    Por aqui está tudo óptimo, como vê, as minhas paixões mantêm-se à roda da escrita e dos livros, das minhas próprias nostalgias, dos amigos e dos motivos de orgulho que nos fazem sorrir. Dias de cão, dias alegres, dias amenos, dias de frio e de chuva, dias de sol. O balanço tem sido positivo, acredite.

    A nostalgia ocupa um espaço legítimo na vida dos que já viveram outros tempos; e se o ditado diz que com eles se mudam as vontades, a nostalgia é prova de uma vontade que ficou para trás, um desencontro com as pessoas que éramos noutra época e que não desejamos esquecer...pessoas, lugares, objectos, cheiros, ruídos, sabores, emoções e pensamentos... A nostalgia é um grito de socorro, um alerta, mas também uma celebração: enquanto existirem motivos para que sintamos essa melancolia, haverá provas de que vivemos dias felizes.
    Votos de um excelente 2011 para sie para os seus.

    Com amizade e saudade,

    Vera de Vilhena

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