Ontem à noite, em directo pela RTP, ao receber o Prémio Autor Nacional da SPA/RTP 2011, Eduardo Lourenço brindou-nos com um discurso maravilhoso, que só podia nascer de um espírito superior como o seu. Lembrou-me a prosa de Saramago, tecida palavra a palavra, morosamente, com as suas frases longas, onde cada vocábulo tem um destino perfeito. Começou por um silêncio que deixou a sala de pulmões cheios, em suspenso. Ninguém se atreveu a respirar antes que o pensamento de Eduardo fosse verbalizado. E quando, ao fim de generosos segundos, iniciou o seu discurso, foi como um néctar precioso, um hidromel vertido gota a gota, sem nunca perder o rumo ao que pretendia partilhar com todos nós, que o escutávamos com um imenso respeito. Mostrou-nos, com aparente lentidão, a torrente de ideias que lhe habita o cérebro ainda ágil. Ensinou-nos que a pressa não tem qualquer sentido e que podemos ser donos do tempo. No fim, vi muitos olhos brilhantes, iluminados pela renda delicada que saía da sua boca, como um novelo prateado nas mãos de um deus.
Parabéns, querido Eduardo, por este prémio tão merecido. Estamos gratos pelos livros e entrevistas com os quais nos enriquece, e somos mais ricos por testemunhar os seus muitos ensaios para compreender o país em que vivemos, o mundo e o pensamento humano.
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