segunda-feira, 6 de junho de 2011

Livros

A beleza do livro
(PATRÍCIA REIS, crónica Expresso edição de 4 de junho)

"Entregar um livro ao público é como levar o filho à escola pela primeira vez: o miúdo já sem fraldas mas ainda com o boneco e, por vezes, a fralda de pano. Fica pendurado na professora e à mercê de uma mão cheia de desconhecidos. Um livro novo, depois de mais de três anos de trabalho, torna-se estrangeiro para quem o escreve, é um território que pode ser lido, interpretado, amado ou odiado. Por quem conhecemos e por todos os outros, potenciais leitores, sem rosto, sem referências que nos confortam.

A seguir, a pergunta central é a de saber: depois de “Por este Mundo Acima” que vou escrever? Devo escolher outro trilho? E será isso uma boa ideia ou pode prejudicar todos os frutos recolhidos? Se escrever é condição e não profissão, uma necessidade ou terapia, para tantos, é ainda um exercício de algum masoquismo, porque nos expomos e não temos certeza de nada. Há, de certa forma, um regresso à insegurança infantil de não se ter a certeza, até porque quando temos a certeza somos apelidados de “convencidos” ou “arrogantes”.

Na Festa da Literatura no Funchal em finais de Maio, primeira edição da responsabilidade dos Booktailors, alguém disse: “Podia ser só uma mulher gira”. Outra presunção? Certamente. Quem é que quer ser apenas uma mulher gira? Ou um homem? Ou até uma criança? Desejamos sempre que a beleza venha de mão dada com a inteligência e o sentido de humor, prática pouco exercitada por estas bandas onde dizer mal é mais fácil do que dizer bem; por isso festejar o sucesso do outro é, desculpem dizer, uma enorme maçada. Como a beleza alheia. Mesmo que a beleza seja de uma tristeza infinita.

Eu encontro beleza nos livros e por isso leio e releio. Gosto de ter amigos que são escritores e outros que não estão sequer interessados em saber o nome do próximo ou anterior Prémio Nobel. Na multiplicidade é que está o ganho. Mesmo que não seja giro."

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