Os dedos presos em novelos de dúvida. Ou talvez seja apenas o fel viciado do ócio. As personagens aguardam, empoeiradas, quando mal se haviam reerguido das cinzas. Talvez, dizem-lhe os dedos, talvez não saiba para onde vai, que destino dar àquela gente que inventou num dia iluminado e maldito e que por tanto tempo anda suspensa, sem chegada, sem viagem. É tarde para as abandonar mas impossível prosseguir. E ela, a minúscula pessoa esculpida em grandes esperanças, assim permanece, de mãos paralisadas, no limbo em que ficam os que, caindo, não encontram chão. As horas consomem-se em nada. Tudo é incerteza e descrença. A pouca fé que depositou nos dedos mudou-se para outro país, emigrou-lhe do peito, deixando-a vazia. Nem sabe se ainda é capaz de sentir a velha culpa, pois até para a culpa é preciso ter fé.
© Nanã Sousa Dias |
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