domingo, 12 de maio de 2013

Três à mesa

Já se imaginava num recomeço suicida, num andar à deriva ainda maior do que a deriva em que já vivia mergulhada. E eis que o destino lhe ofereceu aquela surpresa, um trio harmonioso e até familiar feito do fio de prumo das conversas tecidas em tempos antigos, em memórias que afloram, com riso de permeio, o sabor das mudanças e a transformação dos rituais. Era, mais uma vez, a saudade que aconchegava as recordações numa patine dourada, embelezando um tempo perdido que, precisamente por isso, se tornava ilusoriamente perfeito. 
Contra todas as previsões da sua amargura enraizada, a noite foi de paz; e foi de coração embriagado que ela se deitou nessa noite. A esperança era agora uma gaze luminosa que embalava a sua cama, rematando-a num grande laço e tornando-a leve. Quem nessa noite admirava, à janela, a lua gorda recortada em papiro, apenas viu uma estranha forma flutuando nas trevas, rumo ao sol, do outro lado da Terra adormecida.

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