quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Setembro

Agosto terminou e eis que a vida vai regressando à sua respiração habitual. É preciso chocalhar a preguiça da estação, tomar fôlego, tirar a poeira da mesa, guardar as havaianas. Devíamos pôr este verão de castigo. Portou-se muito mal, o menino. Andou a fingir que trabalhava, deu imensas faltas, teve péssimas notas no teste final. Mas passa sempre de ano, o patife. Decerto ainda teremos uns dias de consolo, uma espécie de aulas de compensação, de uma segunda chamada, para recuperar a dignidade estival. E enquanto esses dias não chegam, dou um jeito à casa, ponho a correspondência em dia, junto-me à corrente que anuncia a "rentrée". Regresso à escrita com novo fôlego. Leio, pela terceira vez, um livro que me lembra aquilo que já sei e que tendo a esquecer. Insistir. É urgente insistir até entranhar. Lembrar que a vida não é para se ver da janela. Que os anjos voam porque se fazem leves. Que somos estudantes numa imensa universidade. Que é preciso sermos escultores todos os dias. Devagarinho, cinzelando, dando forma, corrigindo, até encontrarmos a nossa imagem mais verdadeira e varrer, sem culpa nem remorso, o que ficou para trás. Pois é parte da obra. Também as sobras foram e serão o nosso alimento. 

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