Hoje, frente a uma tigela de gaspacho e um copo de vinho branco (ok, dois), revi mais um filme romanceado sobre o mito da vida dos escritores, que tantas fantasias faz nascer na mente dos autores principiantes: cenários hollywoodescos em cor sépia, cujo protagonista, em voz off, sob uma cuidada banda sonora, vai narrando a angústia dos seus dias como escritor, confessando-nos a miséria do seu quotidiano, intercalada com a salvação que chega com um cheque miraculoso, pelo correio, graças a um conto ou outro publicado no jornal. Ou mesmo a confiança de um adiantamento para que o escritor, a partir de um conto, escreva o seu primeiro romance! E claro que não pode faltar a grande história de amor proibido com final dramático. Sorrindo, consciente de que alimentava o meu lado ingénuo com histórias da carochinha, encontrei uma boa frase, na boca do suposto editor famoso e experiente. Dizia mais ou menos isto: é claro que sente que não tem o que escrever! Um escritor não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo; ou bem que se vive, ou bem que se escreve; se está sentado na cadeira a escrever, não pode ir lá para fora viver; o difícil está em fazer muito com pouco. Esse é um dos encantos da escrita.
É isso, tirar o melhor partido do que se viveu. Fazer o máximo com o pouco que se tem. Não se trata de ir viver para ter sobre o que escrever, mas sim escrever sobre aquilo que se viveu. Nem que seja o ter ficado anos preso num quarto escuro, pois na escuridão cabe o mundo inteiro.
Vera, concordo em absoluto com o que diz sobre a escrita. Considero que, de alguma forma, libertar os signos nos possibilita um crescimento interior, e, simultaneamente, nos "obriga" a que, no dia-a-dia, tenhamos uma atitude mais atenta para com o detalhe, precioso detalhe, que transmuta o grão em açafate repleto de alimento da alma.
ResponderEliminarGratidão pela partilha
Tomo a liberdade de linkar o seu blog, se não vir inconveniente
Mel