O verão invadiu o Outono. Chegou atrasado e desculpou-se, brindando-nos com dias dourados. Comigo, partilhando o extenso areal, encontram-se meia dúzia de almas que, tal como eu, não têm a bênção do trabalho e, por isso, gozam dias abençoados de...ócio. Nada mais se ouve além do piar das gaivotas e da rebentação das ondas. De olhos fechados, posso imaginar que esta praia é minha. O mar, arrepiado pelo vento, conta-me histórias antigas como imensa concha colada ao meu ouvido. Nas dunas vejo marcas tripartidas que acusam a visita das aves marinhas, pousando na areia antes de nova investida rumo ao céu azul. Uma neblina fina, quase transparente, faz desmaiar o tom celeste. Dois pescadores instalam-se junto aos rochedos. Dizem que hoje é que vai ser. Pacientes, olham o mar, cheios de esperança, como se lhe pedissem que dispensasse um ou dois filhos, já que tem tantos. O mar responde com um longo rugido e as canas permanecem imóveis e vazias, enquanto o sol desce no horizonte.
Imagem: Nanã Sousa Dias
Imagem: Nanã Sousa Dias
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