Chegaram ao fim da manhã, carregadas de sacos. Algumas traziam as filhas. Sintonizámos a TV no Disneychannel. O Gastão, com a sua enorme cabeça de Serra da estrela, a cheirar a Laura, de 5 anitos, que lhe ficava à mesma altura. De vez em quando as crianças vinham ter comigo e faziam perguntas estranhas, do tipo:
- Porque é que está aqui a árvore de Natal? Ainda não é Natal!
- Porque é que o chão da vossa cozinha é igual ao chão lá de fora? Nunca vi um chão assim!
- É preciso ajuda?
- Vera, já viste ali? Descobri uma floresta!
E eu juntava o meu espanto ao delas. Somos assim, o que é que se há-de fazer? A nossa árvore de Natal tem um ninho verdadeiro no topo. Um pássaro que se equivocou o ano passado. Como é que podíamos desmanchá-la? Agora está montada todo o ano,é claro. É também uma espécie de candeeiro festivo, a iluminar o canto da sala. Sim, Teresa, o natal é quando um homem quiser. O chão da casa é o que se chama de rústico, tudo forrado a tijoleira, quadrados grandes, sim, Lara, para jogar à macaca.
A Nanda tomou conta do lava-louças de mármore, puxou de uma enorme panela, afastou o jarro de barro e serviu a sangria de espumante ali mesmo, à concha, da panela de alumínio sobre o mármore.
Às tantas todos abriam gavetas e armários, como velhas visitas da casa. levavam coisas lá para fora, traziam para dentro, e a conversa prosseguia, saltitada e dispersa, como qualquer conversa que se preze.
O Gonçalo admirava as luzes natalícias sobre a bancada da cozinha, por baixo dos armários suspensos, Nunca me lembrei disto, mas resulta! Dizia, vendo que as soluções se escrevem com um pouco de imaginação e espírito de improviso.
A aeromoça Susana chegou no fim, com a Beatriz pela mão. O Chico tentou controlar o entusiasmo, para não ser preso lá em baixo, juntamente com o Gastão. Continua linda, a Susana. Continuamos todas! No coração a juventude, no corpo, as histórias. Veio, não podia faltar, num salto cá a casa, entre um continente e outro.
A Isabel acabou por não se bater com a Ana Rio num duelo. Já se viu que uma salsicha de soja nada pode contra um cinturão negro com letras douradas (elas percebem a piada).
A Graciett sentada lá fora e depois à cabeceira da mesa da sala, na sua atitude silenciosa habitual, de quem absorve mais do que liberta. De quem observa, sempre a sorrir. Outras falavam, debitando memórias, recordando as aulas de História de Arte e o sapato da Maria. Ah, o que seria de nós sem a memória da Isabel? Reescreve os dias no tempo, quando eles começam a esbater-se. A Isabel é o nosso livro de histórias.
O sol esforçou-se para nos manter lá fora, no terraço. Os cães pelo meio, contentes com tantas pernas, tantas vozes. A Maria pediu papel e canetas para fazer desenhos. A Rosarinho chegou muito a tempo, para se juntar ao almoço tardio e comer as entradas e a salada de atum. Os doces foram a vergonha. Engordo só de escrever! Brigadeiros, bolos de amêndoa, tarte de chocolate, bolos da Ti Piedade, licor de maracujá, vinho branco, vinho tinto...
A Paula telefonou de Londres, falou com várias de nós, brindámos à distância, com a sangria de espumante, que já ia a mais de meio (a panela, entenda-se).
À nossa, moçoilas. Sejam para sempre bem vindas a esta casa. E que venham mais vinte anos de amizade.
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Escreve mais para mim....
ResponderEliminarEmbalas-me
Faço minhas as palavras de quem já te disse:"Não puxei pela cabeça, não forcei (...)simplesmente, cruzou o meu espírito como um cometa."
jinhos da??