domingo, 11 de março de 2012

Neruda

"...tudo o que você quiser, sim senhor, mas são as palavras que cantam, que sobem e descem... Prosterno-me diante delas...Amo-as, abraço-as, persigo-as, mordo-as, derreto-as... Amo tanto as palavras... As inesperadas... As que glutonamente se amontoam, se espreitam, até que de súbito caem... Vocábulos amados... Brilham como pedras de cores, saltam como irisados peixes, são espuma, fio, metal, orvalho... Persigo algumas palavras... São tão belas que quero pô-las a todas no meu poema... Agarro-as em voo quando andam a adejar, e caço-as, limpo-as, descasco-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas... E então revolvo-as, agito-as, bebo-as, trago-as, trituro-as, alindo-as, liberto-as... Deixo-as como estalactites no meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes das ondas... Tudo está na palavra... Uma ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar, ou porque outra se sentou como um reisinho dentro de uma frase que não a esperava, mas que lhe obedeceu... Elas têm sombra, transparência, peso, penas, pêlos, têm de tudo quanto se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raízes...(...)"
PABLO NERUDA, pseudónimo e segundo nome legal de Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, "A Palavra", in "Confesso Que Vivi")

1 comentário:

  1. Li o livro "Confesso que vivi", é muito interessante é a vida do autor em que retrata a longa viagem das suas palavras. Pablo Neruda para sempre.

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