segunda-feira, 26 de março de 2012

No tempo das papoilas

 
Ontem que os relógios avançaram no tempo, eu recuei. 
Esta menina na imagem podia ser eu, em versão morena, na infância e princípio da adolescência. O solo que nos anos 70 era assim, forrado de papoilas e outras ervas silvestres, por entre as quais os gafanhotos saltavam, há muito que se cobriu de alcatrão...mas esses sábados, domingos e férias de verão ninguém me rouba! Esse tempo em que me deixava adormecer pelo ópio das flores e das páginas de tantos livros, que lia inocentemente, alheada do resto do mundo. 
Os miúdos de hoje (odeio a palavra "jovens") parecem-me mais acordados, apesar de tudo o que dizem por aí: que eles se alienam atrás de gadgets como telemóveis, Ipods e Iphones; lols, bjs, smiles, beijokas e :)'s, que tantas vezes reduzem emoções a dois ou três símbolos. Contra mim falo, que sou a primeira a suspirar pelo tempo em que subíamos às árvores e construíamos brinquedos com as nossas mãos. Mas esses tempos já lá vão, certo? Estão mudados e os de hoje não são nossos, mas deles. Assim, com infinitos canais de TV, wikipedias, google, twitter, facebook e uma infinidade de ecrãs com os quais eles decifram o mundo (tão distinto do nosso), de polegares e indicadores num frenesim: teclando, escrevendo, comunicando.
Hoje encontrei um blog que me transportou para a pessoa que eu era mais tarde, com 15, 17 anos. O blog da Bia. Nele encontrei as mesmas interrogações, a mesma indignação. A inocência, o tom confessional, um pé no futuro. 
Os blogs são os diários dos tempos modernos. Sem cadeados, sem o risco de serem lidos por irmãos mais velhos, zombeteiros. Os segredos não estão na moda. A noção de intimidade, de privacidade, transformou-se. Estamos sedentos de partilhar tudo com todos. De comunicar. A Bia manda recados, chora connosco a morte de um avô querido "quase pai", partilha as intenções que tem de enveredar pela política, deixa, na margem direita, um email especificamente criado para comentários, críticas ou sugestões. E eu leio aquelas linhas e sorrio com ternura e orgulho, por uma amiguinha de coração ainda tão novo, que me comove, e ao mesmo tempo tão mais crescida do que eu era, com a mesma idade.
Mas há muitos blogs. Bons blogs, de boas pessoas assim, tão novas, que partilham emoções e pensamentos como um diário aberto e um olhar juvenil e, por vezes, irreverente e bem-humorado. Aqui estão três bons exemplos:

http://beatriz-ventura.blogspot.pt/ 


http://tabernadosbitaites.blogspot.pt/ 


http://be-logue.blogspot.pt/ 


Obrigada, Bia e Inês!

2 comentários:

  1. Obrigada, Vera! O meu blog é na verdade apenas mais um. Mas acho que é importante mostrar que não é a idade que nos impede de escrever o que sentimos ou que imaginamos. Realmente os "miúdos" de hoje não são os mesmos de antigamente, mas é mesmo assim, faz parte da mudança!
    Tenho uma grande admiração por si. É uma excelente mãe, uma excelente pessoa, escritora, tudo! Muitos Parabéns e um beijinho enorme!

    ResponderEliminar
  2. Ó Bia, deixaste-me sem jeito, palavra de honra! És uma querida e o teu blog não é nada mais um, é O TEU BLOG :) Continua a escrever e não desistas do que te faz feliz ou te faz bem ao espírito, ao corpo e ao coração. É o que vale a pena neste mundo. A felicidade vem depois, quando olhamos para trás ;-)Um abraço apertado!

    ResponderEliminar