terça-feira, 20 de novembro de 2012

Vidas


Não me digas a verdade, não ma recordes. Hoje eu sei, juro-te que sei, pois o tempo também passou por mim. Tardou, mas passou. Estavas a ver que eu nunca mais crescia! Pudera, não tínhamos tempo. É preciso muito maior quantidade de tempo para crescer.
Agora tenho imenso tempo. Sou uma ilha rodeada de tempo por todos os lados. Dizem que a vida é curta, mas não é verdade. A vida dura uma eternidade. Temos tempo para demolir todas as nossas certezas, para perdermos o chão muitas vezes, para vivermos várias vidas. 

2 comentários:

  1. Vera, Querida Amiga,
    A Vida! O Tempo! O que passou é o passado e o que ainda não passou, a chamar-se futuro. Futuríssimo se estiver bem longe. O tempo realmente é curioso. Embora passe exactamente ao compasso do segundo, a sessenta por minuto ou a 3600 por hora, não há dia que se passe sem que nos pareça que apenas passou p’la metade, porque a outra, a que acontece às escuras, essa, fechamos os olhos, e já está… acordamos depois, bem ou mal dispostos mas prontos, que remédio, para vivermos mais outra metade mas às claras. Tanta luz por vezes…
    O que nos fica? Prazer, dor, ironia, até saudade de tantas metades vividas, às claras, claro, porque das outras, apenas nos ficam os sonhos e esses, raramente são bons companheiros pela vacuidade que nos emprestam, pelas luzes feéricas com que nos acenam. Se são bons é um alívio, mas ao acordarmos ficamos tristes porque… não era verdade, era só sonho; se são maus, é um alívio quando terminam; podemos estar cansados ao acordar, mas a vida é de certeza mais azul.
    Bom, bom, minha amiga, era poder passar a vida só sonhando coisas boas, que cheirassem bem, que cheirassem a café e torradas com manteiga se ao acordares, for manhã… Para os sonhos maus, os pesadelos, acordar e sentir o quentinho do lençol a envolver-nos o pescoço, e as costas resguardadas pelas costas, de quem connosco partilha o leito. É assim que devia ser sempre…
    Odeio pensar que agora, quando acordo o faço num leito vazio! Ele há tantos vazios, que fico aflito por ter de escolher um que me sirva, porque não me sinto bem em nenhum deles. “Não me digas a verdade, não ma recordes. Hoje eu sei, juro-te que sei, pois o tempo também passou por mim.” Porque será Amiga, que às vezes, quando escrevemos acertamos em cheio no peito de alguém?
    Em Banjul, aos 11 de Dezembro de 2012
    Mário de Sousa

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  2. Querido amigo Mário!

    Que bom receber palavras tuas, com as minhas por trampolim! Eu até acho que sei responder à tua pergunta final: talvez tenha acertado, porque isto foi escrito com muita sinceridade, com base numa vida antiga que é, tantas vezes, a de todos nós: é simples, ter vivido uma história e ter a ousadia de partilhá-la, ainda que envolta nas brumas da ficção...
    Um grande abraço, e que os teus dias nunca sejam de solidão.

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