A insónia anda a invadir-me as noites. Quando os olhos pesam fecho o livro, apago a luz e disponho-me a adormecer. No entanto, na escuridão do quarto, a mente rodopia como leve tufão, de lembrança em lembrança, de pensamento em pensamento, como pena recusando-se a pousar. Finjo que durmo por algum tempo e torno a abrir os olhos, retomando o fio de prumo que me vai submergindo, verticalmente, nas mesmas lembranças e pensamentos, cada vez mais fundo...até se diluir em algo que posso comparar à vigília de uma noite de cinzas. Logo o novelo me envolve outra vez, e eu recordo então que a insónia é um inimigo impossível de combater e que devemos manter por perto: assim me entrego, ensaiando fazer com ela algo de construtivo. Leio mais umas páginas. Faço um chá de frutos silvestres, que é o que tenho em casa nesta noite parda, e digo ao corpo, vá, são três da manhã, pára com isso e dorme. Ele obedece, semeando em mim uma espiral de sonhos disparatados que me torna consciente de cada volta que dou ao corpo, para a esquerda, para a direita, na teimosia do sono e no roçar morno da almofada. Às sete horas deste domingo de sol indeciso desperto definitivamente. E é então que compreendo: gentil, o corpo tenta dizer-me que o tempo não pode ser desperdício. E eu obedeço e faço o que tenho de fazer para cumprir - não o sono - mas um sonho. Para que não seja uma quimera. Seja em mim um despertar tecido no pó de estrelas que somos todos nós, à procura de um lugar no universo.
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