O mago tinha dois cartuchos de magia trocada, comprados na Feira das
Curiosidades, num encontro de druídas muito velhos. Tão velhos que alguns deles
já não davam conta do que faziam. Nunca sabiam dizer o que iria sair da terra: podia
ser um milagre ou uma desgraça. Um duende prestável ou um monstro que tudo arrasava.
Na noite de lua cheia o mago plantou as sementes do primeiro cartucho e
foi dormir. Na manhã seguinte tinham nascido cenouras de açúcar, beringelas de
amora, coentros de cacau, aipos de mel…. ingredientes da terra que apenas serviram
para confeccionar pratos agridoces. Nessa noite os convivas saíram de sua casa
um pouco enjoados, o que é compreensível.
Na lua cheia que veio depois o mago semeou o conteúdo do segundo cartucho
de papel pardo. Cansado de tanto desalento, pediu à lua alguma grandeza de
espírito; que se apiedasse daquela gente tão carente de salvação. Sem saber o
que deitava na terra húmida, pegou na foice e plantou rebentos de visões,
sementes de iniciativa e bolbos de ânimo mesclados de fortuna. Quando o sol
subiu no horizonte, a urbe parecia transformada. Todos trabalhavam e sorriam.
Compravam e vendiam. Inventavam e construíam. Falhavam e insistiam, sem nunca
perder o sorriso. A cidade cresceu e nem sete dias passados já se tornara uma
lenda nas cidades vizinhas.
Nunca mais precisaram dele.
O mago partiu e jamais tornou a ser visto.
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Quanta imaginação, Vera. Gostei muito.
ResponderEliminarUm beijo.