«Uma velha muito velha vivia numa casa escondida no coração da floresta, onde a luz mal conseguia entrar. Sobre a casa pairava um nevoeiro esverdeado com laivos de ouro, que as lanças do sol formavam ao trespassar os ramos do arvoredo, enquanto a lua não chegava com a sua túnica de prata.
Durante o dia o silêncio era rei desse lugar. Apenas o vento se escutava, silvando, a fazer dançar o tédio dos salgueiros e a tristeza dos ciprestes. Durante a noite, porém, os ruídos surgiam, feitos de bichos alados, rasteiros e marinhos; muitas patas e antenas e dentes e pelagem coberta de imundice.
Nessas horas, em que a lua era soberana, as trevas revelavam tons argênteos. Cristais de gelo e uma poalha azul-cobalto acariciavam a folhagem, inundando a floresta de murmúrios ocultos na sedução do frio, como tímida flor nascendo, por miragem, num manto de neve.
Assim se comportava o jardim selvagem ao redor da casa da velha, escondida na floresta onde a luz mal se atrevia. Estranho comportamento esse, tão contrário às leis naturais, não fosse a floresta o cenário verdadeiro da história que aqui se revela, tal como aconteceu.»
(© VERA DE VILHENA, em construção)
Sem comentários:
Enviar um comentário