terça-feira, 2 de março de 2010

Júlio Isidro

Chegámos ao Museu de Arte Popular pouco depois das nove. Junto ao bengaleiro, encontrámos os primeiros rostos familiares. Um jantar para duzentas pessoas, organizado e oferecido pela Câmara Municipal de Lisboa, para celebrar os cinquenta anos de carreira do Júlio. Champanhe francês à entrada e uma enchente de caras famosas: relanceei uns, cumprimentei outros, naquele ambiente esfusiante que provoca conversas aparadas, interrompidas, recomeçadas e interrompidas novamente. De um modo geral, todos mais gordos e mais velhos, incluindo eu, com certeza. Gente da televisão, rádio, música, artes plásticas, literatura, imprensa. A família também, claro, entre a qual a Sandra e as três filhas do apresentador, Inês do Carmo, Mariana e Francisca.
Ficámos na mesa “Regresso ao Passado” (programa da RTP onde me estreei como cantora de televisão, em 1989), mas preferimos falar do presente e do futuro. O ambiente era de boa disposição. Antes da sobremesa e do café, António Costa subiu ao palco, e anunciou o homenageado, que vinha discursar. O Júlio fez variadíssimas e boas piadas à sua idade, sempre com uma piscadela de olho aos tempos que ainda hão-de vir. Foi igual a si próprio e ainda bem:
- O local onde nos encontramos não podia ser mais adequado à ocasião: encontramo-nos no Museu de Arte Popular (risos na sala). E, aqui mesmo ao lado, não deixa de ser engraçado estar precisamente o Padrão dos Descobrimentos...
Fez-nos rir, enterneceu-nos, agradeceu a presença e a amizade de todos, fazendo-nos sentir importantes. Os agradecimentos foram muitos, pois muitos são já os anos de carreira. O Rui de Carvalho apareceu de repente, em pleno festejo do seu aniversário, e foi directo ao palco só para cumprimentar o Júlio. Logo depois, regressou para a sua própria festa. Do lado esquerdo do palco, um piano de cauda branco. O Herman sentou-se junto ao mesmo e decidiu homenagear o Júlio com o “Tony Silva”. O José Cid deu um ar de sua graça, mas logo desistiu, ao ver que várias cadeiras se erguiam para as idas aos lavabos e às sobremesas. Pareceu-lhe mal e foi sentar-se algo amuado. O Luís de Matos ofereceu-nos um truque de ilusionismo que meteu um lenço ao barulho e o João Balula Cyd tocou um pouco para o acompanhar. A festa foi esmorecendo. Afinal, já passava da meia-noite e no dia seguinte era preciso levantar cedo. Dei muitos beijos e abraços de olá e adeus: Paula Oliveira, Isabel Campelo, Rita Ferro, João Baião, Luís Represas, Carlos do Carmo, Adelaide Ferreira, Lena d’ Água, Herman José, Simone…
Na viagem de regresso ao campo, tive a sensação de ter andado numa espécie de carrossel. Cheguei a casa, pousei os acessórios, tirei os sapatos de salto alto, a boina preta de lantejoulas, a túnica Calvin Klein e a tela de pintura que estes encontros esperam de nós, mulheres. Guardei o glamour nas gavetas e armários e tornei a ser uma flor silvestre.

5 comentários:

  1. Querida Vera, dei-te um beijo mas gostaria de ter dado mais. Estavas linda e sem um quilo a mais, eu vi! Vim aqui parar depois de receber um alerta do google. Se me quiseres visitar, moro aqui

    http://actofalhado.blogs.sapo.pt

    Um abraço apertado da Rita Ferro

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  2. Querida Rita, que honra receber aqui a sua visita. Já espreitei o seu cantinho, que adorei. Assim que entrei, cruzei-me com os versos de Pablo Neruda, uma maneira bela de começar o meu dia. Adorei revê-la nesta festa mas, na verdade, o tempo que tivemos para falar foi apressado e sem sabor. Ficou a fome!
    Um abraço longo, cheio de saudades.

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  3. Olá Vera,

    Gostei tanto da descrição que fazes desta festa! A imagem do carrossel e da tela de pintura ficaram em mim.

    E que bom encontrar um comentário da Rita Ferro, que li recentemente e me marcou tanto com o seu "Responde se és Homem". Guardei o seu blog.

    Beijinho
    JoanaT

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  4. Lembrei me de si e a minha curiosidade trouxe me até aqui.Foi um prazer encontra la e ler o seu blog.Felicidades

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  5. Muito obrigada, mas...quem é, anónimo(a)? :)

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