terça-feira, 4 de maio de 2010

Filosofices IV

Se eu voltasse a ser uma criança, havia de querer fazer uma série de perguntas que na altura não me ocorreram. Agora que sou crescida, até parece mal, mas mal que pergunte...

O que é que a palavra “tornozelo” tem a ver com “torno” e com “zelo”? Nada, não é? Então porque é que as juntaram? Às vezes parece que já não sabem que palavras hão-de inventar e começam a coser duas a duas, ao acaso:
“Pescoço” (coço os pés?)
“Moldura” (afinal, é mole ou é dura?)
“Barbaridade” (pôr barbas à idade? Uma idade bárbara?)
“Debalde” (e esfregona….?)
Caravela (ver a cara? Velar pela cara? Uma vela em forma de cara?)

Se respiramos com o peito, porque é que não usamos o verbo “respeitar”? Inspeita...expeita…inspeita…expeita. Respiro pelas palavras, perdão, haja respeito pelas palavras.

Se dizemos “almofada” e pomos os dentes debaixo dela, para a fada dos dentes, então porque é que não chamamos ao travesseiro, que é o macho, um “almoelfo”? Se não pudesse ser, ao menos, em vez de travesseiro, chamassem-lhe atravessador. É que é um objecto que dificilmente faz travessuras…ou faz e eu não sei? Então pronto, almofauno – que esses, os faunos, são bem mais travessos…

Se eu não tivesse encarnado, a minha alma morria? Não, ia buscar uma cor parecida, o cor-de-laranja ou o rosa, e misturava-lhe um bocadinho de luto.

Porque é que dizem que uma mulher está de saltos altos se ela, empoleirada em sapatos desses, tem tanta dificuldade em dar saltos? Muito menos, altos!

Ter unhas encravadas é termos flores a nascer-nos nos pés? E espremer um cravo, é torturá-lo até que ele nos confesse quantas abelhas é que conhece? É apertar-lhe as pétalas até que denuncie os seus companheiros? É tocar uma melodia num cravo, espremer-lhe as notas? Cravar dinheiro? Desculpem lá, mas é tudo muito complicado.
Pronto, isto era o que eu perguntava se fosse criança, mas agora sou crescida, já não dá.

3 comentários:

  1. Ex-ce-len-te :)

    E com todo o sentido! Aqui tens mais um grande texto :) Deu para desanuviar e rir a bom rir, obrigada! Anda inspirada a menina :)

    beijinho!!!

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  2. Obrigada, C., são coisas que me vão passando pela cabeça, enquanto estou a ler livros. É um género de diabinho linguístico que me mora na cabeça. Se quiseres filosofinhar mais, vai ao rectângulo de pesquisa e escreve Filosofices, que encontras lá as I, II e III.
    Já tenho mais umas quantas no forno...;-)
    Beijinhos!!

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  3. Vera
    Delicio-me sempre com estas filosofices.
    Também gosto de dissecar palavras, mas não tenho o mesmo saber...

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