Entrou no palco muito composta, calçada com uns sapatos dourados. O concerto foi curto e intenso. DIane Reeves e a banda transportaram-nos num arco-íris de ritmos, cores, melodias e cumplicidade com o público, que bateu palmas até as mãos ficarem a arder. Falava connosco cantando, improvizando, desde a apresentação da banda fantástica que a acompanha há tanto tempo, até coisas como: "this is not a concert. Just have fun, relax, enjoy and pretend this is my living-room" e "after 60 performaces, this is not a stage, this is our playground!"
Uma senhora. Uma força da natureza: a voz, a figura, o espírito e a força que nos transmitiu. Fez-nos rir, deslumbrou-nos. Ela e os excelentes músicos que a acompanham e que, juntos com ela, faziam transições de andamentos e ritmos que nos faziam rir e bater palmas, rendidos. Terminou falando-nos na mãe, com 86 anos, cuja personalidade ilustrou com um canto religioso e crescente que, no auge, nos levou a algo aproximado ao êxtase: "NO MATTER WHAT, IT'S GONNA BE A GOOD DAY! EVERYDAY!"
Saiu descalça, com os sapatos dourados na mão, que retirou temas antes, sem que tivessemos reparado. Os músicos foram apagando o último tema, à medida que saíam do palco, até restar apenas o baterista, que foi largando o seu trém de cozinha, até lhe restarem apenas as baquetas, que usou para continuar a marcar o tempo, enquanto saía. Regressaram alinhados, a dançar ao som das nossas palmas, que não cessavam. Não houve encore. Como podiam voltar a sentar-se, abrandar e recomeçar depois de um auge daqueles...? O público sentiu isso e não insistiu. Estou certa de que todos saíram do CCB de alma cheia.
Seguimos as duas para a Fábrica de Braço de Prata, onde eu vergonhosamente nunca havia ido. Instalámo-nos numa sala acolhedora rodeada de livros e de música, para ouvirmos o Nanã e outros tocarem em jam session. A adrenalina ainda em alta, com o concerto. Partilhámos uma tosta mista, bebemos cerveja (Maria) e dois grande copos de vinho branco da Companhia das Lezírias (eu), sugerido e servido gentilmente pelo próprio Nuno Nabais. Ouvimos os músicos que tocavam só por tocar, por simples vontade, pelo prazer do encontro e o amor à música.
Foi uma noite boa.
Hoje acordei com a frase: "It's gonna be a good day, everyday!"
E não pretendo deixá-la fugir.
Obrigada, Maria Emauz.
Que bom, que pudeste encher a alma...e essa frase, devíamos recordar-nos dela diariamente.
ResponderEliminarBeijinhos