quinta-feira, 25 de novembro de 2010

"A Fera na Selva"

Terminei hoje a leitura deste livro magistral, diferente de tudo o que li. Os temas da solidão, do amor, da morte, do desencontro, do não-viver tratados de forma sensível e inteligente. No fim, fica a emoção e um novo olhar sobre o mundo. O nosso universo interior modificado para sempre.
Obrigada, P., pelo prefácio que abre e fecha o livro (li-o antes e depois) com chave de ouro. Tradução belíssima de Ana Maria Pereirinha Pires. Um livro pequenino., 4.95 euros, edições Quidnovi, uma sugestão a reter, um pequeno tesouro.

"Branca como cera, com o rosto marcado por rugas tão finas, que poderiam ter sido traçadas com uma agulha, um vestido branco e suave animado apenas por um lenço de um verde pálido, com uma tonalidade delicada que os anos haviam tornado ainda mais inefável, ela era o retrato de uma esfinge serena e requintada mas impenetrável, cuja cabeça, ou antes, toda a figura,  houvesse sido polvilhada com prata. Era uma esfinge, mas com as suas pétalas brancas e frondes verdes poderia igualmente ser um lírio - um lírio artificial, magnificamente imitado e cuidadosamente mantido numa redoma de vidro, sem pó nem mácula, embora não isento de um certo desfalecimento e de um complexo de delicados vincos.  Aquela casa sempre estivera numa ordem perfeita e num estado de limpeza imaculado.  Contudo, parecia agora a Marcher que tudo fora tratado, dobrado, arrumado e definitivamente guardado para que ela pudesse apenas sentar-se ali com as mãos no regaço sem ter mais nada que fazer. Ela já estava "fora daqui"; a sua missão terminara - comunicava com ele como se estivesse do outro lado de um abismo, ou a partir de uma ilha de repouso que já alcançara, o que o fazia sentir estranhamente abandonado."
(HENRY JAMES, in "A Fera na Selva", 1903)

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