terça-feira, 30 de novembro de 2010

Escrevendo...

"A relação compunha-se de rituais quase extremos, feitos de uma vontade de encontrarem um no outro todas as matérias de que eram feitos, como cães marcando território em busca de cada cheiro, cada substância, na apropriação total do corpo que era seu par. Num dia quedavam-se na casa de campo vestidos com pijamas de flanela, a lareira acesa, o esparguete à bolonhesa, o repouso da chama que o entendimento invadiu e serenou; noutro ele pedia que ela colocasse um vestido preto, umas meias de rede, os sapatos italianos de salto alto, e que saíssem juntos, belos os dois, de olhos provocadores, a quebrar a indolência incompreensível dos outros, a fim de inflamar o seu próprio desejo: Júlio retirava um prazer íntimo em sentá-la num lugar estratégico e sabê-la nua por baixo de vestido. Divertida, ela fazia o papel de Sharon Stone, cruzando e descruzando as pernas sedutoras enquanto participava numa conversa animada, trocando olhares cúmplices que só ele era capaz de decifrar. "
(excerto do livro que estou a terminar)

2 comentários:

  1. Olá Vera, Como está?

    Por aqui, terras vermelhas da Guiné Bissau, a vida corre ao ritmo africano dum tempo sem principio nem fim. Diz o iran que homem não nasce nem morre, só passa. E eu cá estou de passagem mais uma vez.

    Sabe Vera, a melhor parte de um bom bife com batatas fritas é aquele último bocadinho de pão com que se limpa o restinho do molho. Se o acompanhar-mos com o último golo daquele vinho especial, então teremos, sem dúvida, a cereja no cimo do bolo.
    Quero com isto dizer que, estes seus dois textos que irão pertencer a um novo livro seu, me fazem antever o prazer que terei quando, se isso me fôr permitido, terminar a sua leitura.

    Para mim, o que torna uma música agradável é a sensação que se tem de se advinhar o compasso seguinte. Ora quando leio um livro e gosto dele, sinto um prazer enorme em imaginar o que virá a seguir. É tão forte este sentimento que por vezes, se transforma numa sensação de perda a ausência de mais texto, a frustrante palavra 'Fim'. Para mim leitor, mais coisas poderiam ser contadas, mais texto poderia ser produzido.
    Penso que este desejo insaciável da nossa imaginação, porque ler é também ter a capacidade de imaginar, embora egoísta, ajuda a alimentar a criatividade do escritor. E neste caso, o escritor chama-se Vera de Vilhena.
    Os meus sinceros Parabéns por estes dois excertos, pontinha de véu levantado, mas prometendo muito mais que o célebre cruzar de pernas da Sharon Stone.

    A 20 de Dezembro estarei de volta e prometo arranjar tempo para uma conversa. Até lá!

    Mário de Sousa

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  2. Olá Mário!

    É sempre muito agradável receber notícias suas e ver que vai deixando a sua marca neste blog. Estou-lhe grata pelas palavras generosas que dedicou a estes dois excertos e só espero não desiludir quem me lê. Os cenários que neles se adivinham são apenas aflorados, em forma de memórias, pois trata-se, na verdade, de uma novela. Como sabe, neste género a acção não é muito aprofundada, mas deve ser intenso. Estou feliz por ter terminado, é sempre uma boa sensação e vou partir agora mesmo para a revisão. Depois veremos, se terá oportunidade de um dia se vestir de livro. O principal está feito: escrevi-o, o resto já não depende de mim.
    Neste dia de chuva, o tempo é propicio à escrita e à leitura. É o que vou fazer, além de uma sopa...e pouco mais! :-)
    Está-se bem por aqui, caro amigo, contas pagas, com saúde, a casa inteira, como a de Cícero, neste temporal que tanto tem destruído. Não me posso queixar.

    Um grande abraço e até ao nosso encontro!

    Vera

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