quinta-feira, 11 de novembro de 2010

revelações

Textos escritos ao longo de anos - contos infantis, histórias soltas, contos para a adolescência, uma novela inacabada - jazem no fundo da gaveta, votados ao meu esquecimento. Soa a sirene, a anunciar o término do recolhimento obrigatório em tempo de guerra, uma guerra que nem guerra é, apenas marasmo, letargia. As minhas mãos querem agora retirá-los da gruta, libertá-los da poeira do tempo, puxar-lhes o lustro, como a maçãs vermelhas na bancada do mercado, para que se arrumem na montra natalícia, inéditos, carentes de atenções, prestando-se aos olhares perscrutadores de estranhos importantes. Respiro fundo e arregaço mangas, arrependida da minha preguiça de alicerces tão profundos e suicidas, que há muito esgravatam a terra deixando-me assim, desprevenida quando a oportunidade chega. Tenho uma árvore de raízes obstinadas para arrancar.
Roubei a imagem aqui

3 comentários:

  1. E esses contos são tão bons, amiga... O marasmo e a letargia não podem atacar pessoas talentosas como tu! Bem...já sabes o que penso:)
    Um enormeeee abraço de FORÇA!!

    ResponderEliminar
  2. Eu espero o tempo em que a Vera seja impelida a abrir a gaveta, a fazer entrar o imaginário e fascinada pelas memórias faça reaparecer as vozes adormecidas à espera de salvação. As imagens surgem por dentro do corpos ali guardados na convicção de que um dia serão personagens. E a autora falará delas como génios que de si saíram.
    Um beijo Vera.

    ResponderEliminar
  3. Obrigada Rosarinho e João, pelo vosso apoio. A solidariedade entre nós, que tanto amamos as palavras, é essencial para tornar o mundo mais belo, assente numa construção paciente e imensa, feita de pontes invisíveis que nos unem, para que não sejamos ilhas.
    Um grande abraço.

    ResponderEliminar