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Depois de beber um café e de comer uma bolacha de canela, foi ter com o marido ao anexo onde ele se encontrava a trabalhar. Deu-lhe um beijo. Nesse beijo ia uma quase infidelidade. Dentro de si experimentou a euforia dos amantes. Na boca ficou o sabor salgado dos seus lábios. A mulher compreendeu que se iludia mais uma vez, como borboleta ao redor da lâmpada. Esvoaçando de ideia em ideia, ofuscada pela luz: a sua vida não podia ser feita de doçura apenas. Os dias careciam de fel, de sal, de cada nuance de um sentimento, que vai de um extremo ao outro. E ser inteira era estar só, mas também significava unir-se naquele beijo. Ao homem que a esperava do outro lado da sua alma, tal qual o lado sombrio da lua. Podia dar-se sem que nada lhe arrancassem do peito. Oferecer o que não era seu sem com isso se tornar criminosa. Procurar nele o que não tinha. E assim, o ser inteira era transformar-se. Ser todos os dias uma mulher diferente.
Saíu para o jardim e deixou a chuva cair. Confiava na chuva. Os cabelos molhados pingavam. Os olhos fechados à magia do momento. Só os ruídos da noite. O calor nocturno trouxe pirilampos e também o canto de rãs e grilos. A mulher abriu os olhos e sorriu, aliviada por ver que esse instante lhe pertencia. Que para sempre ficaria guardado na sua memória, como um pecado inocente.
Saíu para o jardim e deixou a chuva cair. Confiava na chuva. Os cabelos molhados pingavam. Os olhos fechados à magia do momento. Só os ruídos da noite. O calor nocturno trouxe pirilampos e também o canto de rãs e grilos. A mulher abriu os olhos e sorriu, aliviada por ver que esse instante lhe pertencia. Que para sempre ficaria guardado na sua memória, como um pecado inocente.
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