sábado, 29 de outubro de 2011

Luz

Deixei-me ficar caseira. Li umas páginas de Firmín, o rato leitor que vive na biblioteca e lê livros, tratei dos cães e brinquei com eles, ao sol. As tarefas da casa foram reduzidas ao mínimo. Revisão de texto, emails, facebook, uma longa conversa no chat com uma amiga de longa data. É sempre justo. De repente, vejo o poente a explodir lá fora. O sol parecia incendiar os pinheiros e os eucaliptos. Saltei da cadeira, agarrei a máquina e fui roubá-lo. Quem fotografa é uma espécie de larápio de cenários. E assim fiquei com estes rectângulos de mundo. Só então fechei as portadas e acendi as luzes, num novo acordo entre a casa e o jardim. Uma dança de luz, uma troca, apaga-se o sol, acendem-se candeeiros. Hoje passamos a horário de Inverno, não se esqueçam, lá ficaremos com menos uma hora preciosa de sol. No Brasil é verão e chove. Um bocadinho de mim está por lá, em folhas soltas. E eu escrevo, escrevo sempre, por dentro ou para fora, enquanto me deixo levar pela banda sonora maravilhosa do filme "Out of Africa", que faz tão boa companhia. As portadas podem ter sido cerradas. O céu pode ter enegrecido, mas estas janelas que usamos para comunicar com o mundo estão sempre assim, abertas para outras paisagens, outro céu, outra luz...e o mesmo sol, que traz e leva recados de cá para lá, em estranhas ondas invisíveis, como vertigem junto a uma imensa fogueira.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Revista Egoísta

Já está a chegar às livrarias a nova EGOÍSTA, com data de Setembro, dedicada ao tema Juízo. Tenham-no, e vão à procura, que vale a pena. Afinal, é "só" a revista portuguesa mais premiada de sempre, com mais de 40 prémios internacionais. 
Para mais informações, clique aqui

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Andy McKee

Até parece fácil. Mas não é... Enjoy. E uma boa semana para todos. Não se afoguem no temporal.

domingo, 23 de outubro de 2011

Celebrações

Chegaram ao fim da manhã, carregadas de sacos. Algumas traziam as filhas. Sintonizámos a TV no Disneychannel. O Gastão, com a sua enorme cabeça de Serra da estrela, a cheirar a Laura, de 5 anitos, que lhe ficava à mesma altura. De vez em quando as crianças vinham ter comigo e faziam perguntas estranhas, do tipo: 

- Porque é que está aqui a árvore de Natal? Ainda não é Natal!
- Porque é que o chão da vossa cozinha é igual ao chão lá de fora? Nunca vi um chão assim!
- É preciso ajuda?
- Vera, já viste ali? Descobri uma floresta!
E eu juntava o meu espanto ao delas. Somos assim, o que é que se há-de fazer? A nossa árvore de Natal tem um ninho verdadeiro no topo. Um pássaro que se equivocou o ano passado. Como é que podíamos desmanchá-la? Agora está montada todo o ano,é claro. É também uma espécie de candeeiro festivo, a iluminar o canto da sala. Sim, Teresa, o natal é quando um homem quiser. O chão da casa é o que se chama de rústico, tudo forrado a tijoleira, quadrados grandes, sim, Lara, para jogar à macaca. 
A Nanda tomou conta do lava-louças de mármore, puxou de uma enorme panela, afastou o jarro de barro e serviu a sangria de espumante ali mesmo, à concha, da panela de alumínio sobre o mármore.
Às tantas todos abriam gavetas e armários, como velhas visitas da casa. levavam coisas lá para fora, traziam para dentro, e a conversa prosseguia, saltitada e dispersa, como qualquer conversa que se preze.
O Gonçalo admirava as luzes natalícias sobre a bancada da cozinha, por baixo dos armários suspensos, Nunca me lembrei disto, mas resulta! Dizia, vendo que as soluções se escrevem com um pouco de imaginação e espírito de improviso.
A aeromoça Susana chegou no fim, com a Beatriz pela mão. O Chico tentou controlar o entusiasmo, para não ser preso lá em baixo, juntamente com o Gastão. Continua linda, a Susana. Continuamos todas! No coração a juventude, no corpo, as histórias. Veio, não podia faltar, num salto cá a casa, entre um continente e outro.
A Isabel acabou por não se bater com a Ana Rio num duelo. Já se viu que uma salsicha de soja nada pode contra um cinturão negro com letras douradas (elas percebem a piada).
A Graciett sentada lá fora e depois à cabeceira da mesa da sala, na sua atitude silenciosa habitual, de quem absorve mais do que liberta. De quem observa, sempre a sorrir. Outras falavam, debitando memórias, recordando as aulas de História de Arte e o sapato da Maria. Ah, o que seria de nós sem a memória da Isabel? Reescreve os dias no tempo, quando eles começam a esbater-se. A Isabel é o nosso livro de histórias.
O sol esforçou-se para nos manter lá fora, no terraço. Os cães pelo meio, contentes com tantas pernas, tantas vozes. A Maria pediu papel e canetas para fazer desenhos. A Rosarinho chegou muito a  tempo, para se juntar ao almoço tardio e comer as entradas e a salada de atum. Os doces foram a vergonha. Engordo só de escrever! Brigadeiros, bolos de amêndoa, tarte de chocolate, bolos da Ti Piedade, licor de maracujá, vinho branco, vinho tinto... 
A Paula telefonou de Londres, falou com várias de nós, brindámos à distância, com a sangria de espumante, que já ia a mais de meio (a panela, entenda-se).
À nossa, moçoilas. Sejam para sempre bem vindas a esta casa. E que venham mais vinte anos de amizade.
Roubei a imagem aqui

sábado, 22 de outubro de 2011

Moçoilas

A casa prepara-se para receber velhas amigas da dona. A brincar a brincar, conhecemo-nos há cerca de 22 anos. Um grupo que se formou espontaneamente na faculdade, cada uma muito diferente da outra. E todas foram aceites na sua individualidade. Muito riso, muito disparate, muitos desabafos, cumplicidades e tradições, inventadas a martelo. Muitas memórias...
Depois a vida aconteceu, separou-nos. Casamentos, casas, filhos, divórcios, novas casas. E nisto os anos passaram. Algumas delas não vejo há tanto tempo que é melhor nem fazer contas! As saudades são imensas e é já uma alegria tremenda saber que aqui estaremos, juntas, para recordar o passado e celebrar o presente e o futuro. É sempre tempo de brindar. Espera-nos uma sangria de espumante e muitos petiscos variados, para degustar este dia com todo o sabor. Até a chuva que se anunciava resolveu esperar e adiar-se para Domingo :) O que poderia desejar mais? Do  resto, trata a amizade.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Manutenção

Hoje tornou-se-me claro que tudo carece de manutenção constante. Já pensaram nisso? Na quantidade de elementos da nossa vida cuja qualidade depende apenas dessa determinação...? 
Sermos bons no nosso ofício, desde tocar um instrumento musical até exercer a medicina
Educar e acompanhar os filhos
A condição física
O apetite sexual
A memória
A relação com quem se ama
A arrumação e limpeza da casa
O carro
A roupa
As flores e plantas do jardim
A paixão pela vida...
Manter a qualidade do que é importante ou menos importante exige que não esqueçamos. A indiferença vai corrompendo o essencial. O "deixar andar"...paralisa. Atrofia. Mata! E na distracção do dia a dia tornamos-nos todos numa espécie de assassinos. Suicidas.
Com sorte chega o dia em que arregaçamos as mangas. Injectamos sangue novo nas nossas vidas, reinventamos o que andava esquecido e tornamos-nos feiticeiros. É então que a magia acontece. Recuperamos o sabor às coisas e a vida faz sentido outra vez.

sábado, 15 de outubro de 2011

umbigo

A felicidade é pouco literária. Escreve-se e descreve-se numa espécie de literatura de cordel, pirosa, sem conteúdo analítico, sem revolta nem interrogação. Desarma e mergulha-nos num doce vazio. Rouba-nos o peso, a consistência. Rouba-nos o pensamento. Deixa-nos como crianças selvagens, só corpo e espírito, a brincar num egoísmo umbilical. E que maravilhoso é então não escrever!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Oceano

Dentro de água, no sufoco de há tanto tempo esbracejar, o homem vislumbrou, enfim, uma luz. O céu azul cobalto, enegrecido pela noite, não se distinguia do mar revolto. No horizonte, longe e perto, ele viu a costa que o salvaria, as pequenas chamas tremeluzindo como se chamassem por ele. Não se deixou acobardar pelas vagas e teimou que haveria de chegar a terra firme. O mar amansou e o homem descobriu, com pasmo, que as águas mornas eram agora fáceis de cruzar, que aquela aventura poderia, quem sabe, revelar-se uma viagem feliz. 
Ela esperava, como farol, de pés enterrados na areia. Os tornozelos nus lambidos pela maré. Há muito que o espera. Pensou em desistir, recuar alguns passos. Mas a cada vez que se afasta o mar chama por ela. Outro remédio não têm senão regressar um para o outro, tacteando na escuridão. 

Imagem: pintura a óleo de David Weiss

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Canto do Sabiá

Para ti, em homenagem ao sabiá que vem cantar todos os dias à tua janela, na cidade de S. Paulo. Com votos de um bom regresso.

sábado, 8 de outubro de 2011

Nobel da Literatura 2011


O Nobel ficou em casa, entregue ao escritor sueco, de 80 anos de idade. Ficamos à espera da publicação dos seus versos em Portugal, uma vez que praticamente não está traduzido no nosso país.
"Segundo a Academia Sueca, é "um dos poetas vivos mais traduzidos em todo o mundo", cuja obra incide sobre "a morte, a História, a memória e a natureza".
O escritor bateu o poeta sírio Adonis, principal favorito ao prémio juntamente com Bob Dylan. Entre outros favoritos ao Nobel estavam o japonês Haruki Murakami, o australiano Les Murray, o coreano Ko Un e o polaco Adam Zagajewski.
Nascido em 1931, o escritor e tradutor sueco Tomas Transtromer começou na poesia aos 23 anos e tem mais de 20 livros publicados, entre eles obras como "Stigar" e "17 Dikter".
O Prémio Nobel da Literatura 2011 foi atribuído ao poeta sueco Tomas Transtromer, porque "através das suas imagens translúcidas e condensadas, ele dá-nos um novo acesso à realidade", afirmou hoje a Academia Sueca, em Estocolmo.
Em Portugal, Tomas Transtroemer está representado na colectânea "21 poetas suecos", editada pela Vega, em 1981.
Publicou cerca de 15 obras numa longa carreira dedicada à escrita e venceu numerosos prémios literários, como o Prémio Literário do Conselho Nórdico, em 1990. A maior parte da sua obra está escrita em verso livre, apesar de ter feito também experiências com linguagem métrica."

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Amizade

Ontem ao fim da tarde, depois da praia e defronte a uma salada de rúcula com presunto e espargos, vi pela primeira vez este filme maravilhoso, focado na amizade entre um homem iletrado (Gérard Depardieu) e Margueritte, uma velha senhora de 95 anos de idade. Em português tem o título "Uma Amizade Improvável". Em francês, "La Tête en Friche". Argumento irresistível. Um filme que enternece e nos faz rir. O realizador é Jean Becker (2010). Aqui fica mais uma sugestão para quem gosta de bom cinema e de boas histórias. Neste caso, à volta do encanto das palavras. Perdoem-me as legendas em português-brasileiro, mas foi o que encontrei.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Outubro

O verão invadiu o Outono. Chegou atrasado e desculpou-se, brindando-nos com dias dourados. Comigo, partilhando o extenso areal, encontram-se meia dúzia de almas que, tal como eu, não têm a bênção do trabalho e, por isso, gozam dias abençoados de...ócio. Nada mais se ouve além do piar das gaivotas e da rebentação das ondas. De olhos fechados, posso imaginar que esta praia é minha. O mar, arrepiado pelo vento, conta-me histórias antigas como imensa concha colada ao meu ouvido. Nas dunas vejo marcas tripartidas que acusam a visita das aves marinhas, pousando na areia antes de nova investida rumo ao céu azul. Uma neblina fina, quase transparente, faz desmaiar o tom celeste. Dois pescadores instalam-se junto aos rochedos. Dizem que hoje é que vai ser. Pacientes, olham o mar, cheios de esperança, como se lhe pedissem que dispensasse um ou dois filhos, já que tem tantos.  O mar responde com um longo rugido e as canas permanecem imóveis e vazias, enquanto o sol desce no horizonte.
Imagem: Nanã Sousa Dias

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Morreu Steve Jobs


"Estamos cá para deixar uma marca no universo"


"Visionário, criativo, irascível, místico, carismático, um dos maiores inovadores, senão o maior, da era digital. Morreu aos 56 anos e deixou a sua marca na vida de milhões de pessoas.

Saiu de cena há menos de dois meses com uma missiva curta e directa: "Sempre disse que se chegasse o dia em que não conseguisse cumprir com as minhas funções e expectativas como presidente executivo da Apple, seria o primeiro a informar-vos. Infelizmente, esse dia chegou".
Ontem à noite, Steve Jobs não resistiu mais à doença contra a qual lutou desde 2004, um cancro no pâncreas.
A sua morte acontece no dia a seguir à estreia do seu sucessor, Tim Cook, no palco dos lançamentos da Apple que Jobs tornou míticos. Uma espécie de última homenagem ao homem que revolucionou não apenas uma indústria, mas a forma como as pessoas comunicam e se relacionam no século XXI.
Jobs foi quase sempre precoce. Nasceu em 1955, em São Francisco, cidade que seria capital, na sua adolescência, do movimento hippie. Ainda na escola telefonou um dia ao então presidente da HP, William Hewlett, o próprio, para lhe pedir peças para um projecto que queria desenvolver.
Conseguiu não só as peças como um estágio de verão na empresa. Fã de Bob Dylan e também dos Beatles, Jobs cresce num ambiente favorável à sua natureza anti status quo que ao longo dos anos iria reforçar.
Foi adoptado por Clara e Paul Jobs que prometeram à sua mãe biológica, Joanne Simpson, dar uma educação universitária a Steve. As coisas não correram exactamente como planeado: ao fim de um semestre, Jobs desistiu do Reed College. Um dos seus primeiros empregos foi como designer de jogos para vídeo na Atari, emprego esse que viria a deixar para poder viajar para a Índia.

Fundou a Apple com apenas 21 anos, em sociedade com o amigo Steve Wozniak, e foi pai pela primeira vez aos 23 anos, de uma rapariga, Lisa, cuja paternidade negou durante vários anos. Posteriormente teve mais três filhos no seu casamento com a actual mulher, Laurene Powell.
O primeiro produto Apple - o Apple 1 - foi construído na garagem dos pais de Steve Jobs, como mandam as boas novelas épicas de negócios do século XXI ( e de sempre). O sonho americano começava em 1976 e o financiamento foi parcialmente obtido com a venda de uma carrinha VW de Jobs. O Apple 1 era garantidamente uma proposta diferente: não tinha teclado nem ecrã, tinha de ser montado pelos clientes e custava 666.66 dólares.
No ano seguinte, os dois sócios apresentaram o Apple II que foi recebido com grande entusiasmo. Era o princípio de uma nova era suportada em evidências hoje tão banais quanto o facto de as pessoas preferirem usar um rato para interagir com o computador e poderem clicar em imagens "para fazer coisas" em vez de escrever textos com instruções à máquina. Os interfaces gráficos assumiam-se, assim, desde o primeiro momento como uma poderosa arma Apple. Depois de um bem sucedido lançamento do Macintosh em 1984, Jobs sairia da Apple em 1986 na sequência de confrontos regulares com colegas e com o CEO que ele próprio tinha ido recrutar à Pepsi, John Sculley .
O que poderia ser para muitos um fim de linha, revelou-se para Jobs um novo começo.
Fundou a NeXT e seguiram-se 10 anos de um outro caminho, à margem da Apple, onde conheceria momentos de extraordinária oportunidade, como foi o da compra dos estúdios Pixar a George Lucas, ainda antes de sucessos como Toy Story.
Em 1996, num volte-face digno dos filmes, a Apple compra a NeXT e Jobs está de regresso à sua criação original. Mais velho, mais experiente e igual e em tudo o resto, Jobs inicia à frente da Apple uma nova e genial etapa, em que seriam criados alguns dos objectos e plataformas que moldam o mundo de hoje: iTunes (2003), Iphone (2007), App Store (2008), iPad (2010).

Jobs deixa uma empresa que vende mais 275 milhões de iPods 100 milhões de iPhones e 25 milhões iPads em todo o mundo. Deixa mais do que isso: uma visão e um exemplo de que é mesmo possível mudarmos o mundo. "
(in SAPO.pt NOTÍCIAS)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dia Mundial dos Animais

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Em Abril de 2009 o meu marido saíu para ir ao supermercado e chegou com um cão. Estava no canil de Torres Vedras e ia ser abatido. O Chico (que adoptámos como rafeiríssimo e se revelou um podengo  médio de pelo cerdoso puro) cresceu e tornou-se num cão espectacular: é meigo, saudável, muito esperto, brincalhão e cómico.
Nunca nos arrependemos de o ter salvo, pelo contrário, estamos agradecidos pela alegria que ele dá à nossa casa. A ideia de adoptar um animal só é complicada e irrealizável antes de se concretizar. Depois, a vida dá um jeito e acabamos por descobrir que foi uma excelente decisão. Chegamos mesmo a interrogar-nos sobre quão mais vazia era a nossa vida antes de contarmos com a sua companhia. Um pouco como a ideia de ter filhos: tê-los é uma experiência trabalhosa, sim, mas abençoada. É tão fácil adoptar um animal. Eles precisam da sua ajuda. 
Saiba como ajudar:
http://www.animaisderua.org/
http://www.liveloveandcare.org/
http://www.lpda-pt.com/