Por
onde andam as suas resoluções? Desfeitas como sempre, entre os dedos cujas
unhas não pára de roer. E diz sempre que irá deixar de roê-las, mas nunca
cumpre a promessa. Rói mesmo quando o mundo lhe diz que não tem quaisquer
motivos para tal infantilidade. De que te queixas agora? Vá, diz, que terríveis
problemas tens tu a resolver? Que grandes espadas pairam sobre a tua cabeça? Só
se for por causa das resoluções sem solução. Decisões tão gelatinosas, tão
trementes como alforrecas morrendo de susto na areia. São disparates que escreve,
julgando que valem alguma coisa, mas não valem um caracol. Olha, nunca tinha
usado esta expressão, não valer um caracol.
É
a chamada escrita automática, que de automático nada tem, que a mente não se
desliga só porque a isso nos dispomos; em especial se passarmos a vida a corrigir
os erros de escrita dos outros: que tolerância haveríamos de ter para com os
nossos próprios erros? E por isso a mente não se deixa ir, está sempre alerta,
de borracha e caneta encarnada em punho, a travar, a retroceder, a refazer, a quebrar o embalo das
linhas que a mão vai traçando. Não, esses não perdoamos. E vá-se lá saber por
que razão estou a usar a forma plural, se estou absolutamente só nisto de tentar escrever. Os
outros escrevem, já se sabe, eu sou a perita em tentar. Apenas. Parece que o único tema que me resta é este, a arte
de não escrever. A escrita, um equívoco nas minhas mãos. Fosse eu digna de pena, e poderia dizer que escrevo de uma penada. E assim vou penando, de unhas roídas até ao sabugo. Olha, outra, nunca tinha escrito sabugo.