Regresso à rotina. Apesar de ter levado comigo o portátil para o Festival Literário Tabula Rasa, em Fátima, o programa foi tão intenso e rico que não houve tempo para a "manutenção" das minhas páginas, senão para ir postando directamente no facebook a notícia e as imagens dos convidados. O balanço destes cinco dias foi muito bom. Deixo aqui alguns excertos do texto "A escrita como interrogação", que li no sábado passado. Por companhia na mesa redonda (por que é que lhe chamam mesa redonda, se é rectangular? Nunca hei-de perceber) Maria João Carvalho, Luísa Janeirinho e Renato Epifânio, o organizador e anfitrião deste primeiro Festival Tabula Rasa.
« (...) também
o
escritor, embrenhado
no seu ofício como viajante solitário, por vezes quase cego, de
mãos atadas, poderá
desembocar em território inesperado, levado pela vontade insolente
das
suas personagens, quem sabe também elas se interrogando. Como
leitores atentos, apenas podemos adivinhar, pressentir e
admirar a perícia
do escritor, que
ao escrever é receptáculo
de pensamentos que vão tomando forma, respirando,
com prazer, a
poalha de mistério oculta no grão das suas
palavras,
na sede de
compreender, de livro para livro,
que
lugar, que marca irá deixar no mundo, e
que estranha mania é aquela de escrever sem ter outra saída...»
»Se
o filósofo
é «aquele
que procura
a sabedoria, que ama o saber, que indaga a verdade dos
valores morais e estéticos, da mente
e da linguagem»,
o
escritor, por sua vez, vai
apurando a estética da sua escrita e
deixando, de obra em obra, indícios da sua moral e
tentando, em tantos caSos,
atingir o Belo, a Perfeição.
Ao
tentar
dar
resposta aos seus próprios mistérios, provoca
em nós, leitores, novas perguntas
e espantos,
Nesse
caso, é um responder perguntando, pois a interrogação pode, também
ela, trazer o
reflexo da sabedoria.
É
preciso saber para perguntar. A
dúvida pressupõe pensamento, conhecimento.»
«Um
livro fechado, por ler, é um livro mudo. Os livros sem leitores
seriam como cores encerradas
num quarto escuro, invisíveis, sem sentido.»
Intercalei com um punhado de "Filosofices", que conquistaram bastante simpatia, e terminei num registo filosófico e intimista. Aqui vos deixo um último excerto:
«Na (minha) adolescência, deu-se o inevitável: a escrita de versos. Decerto
horríveis, recheados de pirosices, de exclamações...de pontos de
interrogação...até descobrir que as interrogações que certos
autores semeavam em mim eram muito mais interessantes.
E
fui crescendo, vou crescendo, como todos nós, descobrindo com pasmo,
que ao fim de tantas leituras complexas, o olhar se vai esbatendo…
tornando-se desfocado outra vez, as certezas transformando-se
em
incertezas,
as interrogações ganhando às respostas… uma visão que nos vai
encostando a um capítulo final, um epílogo no qual adivinho uma
simplicidade que desarma.
E porque andarmos
desarmados
é
um
ideal que todos deveríamos
conquistar, apostemos
na Literatura.»