Papoila encravada
Escrevo para dizer que escrevo.
Enquanto os cravos vermelhos são tudo
O que os olhos alcançam
por estes dias e eu,
Escondida em vida silvestre,
Continuo a abraçar papoilas
Cujo tom escarlate, salpicando os prados,
Sempre me lembrou a liberdade
mais verdadeira
Onde a natureza escuta os nossos gritos
E nos afaga a solidão
Com a doçura de um beijo molhado no vento.
Sim, são papoilas, os meus cravos.
Escrevo para dizer que escrevo.
Enquanto os salgueiros compõem a manta morta;
Húmus, folhas secas, cadáveres e raminhos,
Decomposição mal disfarçada,
Em festins e algazarras, encravada em ideais;
Dentes de leão na brisa caindo, desmembrados,
Sobre quatro décadas de terra que era fértil.
Escrevo para dizer que escrevo a liberdade.
Que a cada dia tentamos segurar
Como quem prende nos dedos uma rosa de espinhos…
Nada somos no silêncio
E é por isso que existem as flores.
(in Fora do Mundo, Poética Edições, 2014, p. 117)
"E é por isso que existem as flores" - por isso e para encher o nosso olhar de espanto!
ResponderEliminarabç amg