Eis que o Outono se instala, cobrindo tudo com uma gaze fresca. Chega de mansinho, despindo os ramos das árvores e deixa-nos assim, melancólicos, por sabermos que, depois deste manto dourado, nos espera o mal-amado inverno. Os cabelos caem, solidários com as árvores, a pelagem dos cães modifica-se, a preparar-se para o frio. A pele regenera-se, despedindo-se do tom de bronze que o sol nos ofereceu, como se nos dissesse: “agora que terás de agasalhar o teu corpo, para quê essa cumplicidade com o sol?”. Respiro fundo e admito que assim é. O tempo renova-se, as chuvas anunciam-se, a paisagem transforma-se. Fecho a janela, viro-me para dentro e penso nas sementes que fui atirando à terra nas últimas estações. É preciso restaurar as palavras, limpá-las de todas as ervas daninhas, do lixo literário que o desamor e a preguiça foram acumulando. É tempo de preparar o futuro, que pode ser amanhã ou depois de amanhã. Conferir o legado, arrumar a casa da escrita, deixar a melhor versão, os melhores rebentos. Salvar o que tem de ser salvo. Pensar que, de hoje em diante, a responsabilidade é maior. Não que o seja, realmente, mas anima-me pensar que serei, um dia, um bom jardineiro. Alguém que se importe com as minhas palavras. Um só alguém que seja. Trabalhar. É urgente cultivar a terra, pois a pergunta paira sobre mim: se te fores, amanhã, o que queres deixar no teu jardim?
Boa noite, Vera.
ResponderEliminarDeixará muitas flores e algumas feitas de canto, estava com saudades de tua escrita, que este outono seja menos abissal.
Beijo
Renata
Olá Querida sobrinha,
ResponderEliminarOlha hoje vou limitar-me a transcrever o comentário que acabei de postar à Renata, com efeito vice-versa.
Beijo grande
tio Zé
...Querida Rê,
Primeiro dizer-te que me deixou feliz que os jogos olímpicos de 2016 venham a ser falados na nossa língua, em solo brasileiro.
Depois retomar o que já te disse inúmeras vezes e repito:tens de ir compilando estes teus magníficos textos para serem editados em livro.
Se me permites e a Vera que me desculpe o palpite, mas dada a qualidade de ambas as escritas, atrevo-me a sugerir que juntassem os vossos textos fazendo, em parceria, o "tal livro" cujo nome poderia ser, por exemplo, "Contos e narrativas, aquém e além-mar"
Boa semana
Beijo grande
Zé