O serra da estrela olha-me com ar enfastiado, sem compreender porque me agarro tanto a ele. Sabe lá o cão o que é ter frio. Com o casacão (casa...cão?) que tricotou para o seu primeiro inverno, não há frio que lhe chegue à pele. Anda-me a arfar pela casa, como se estivessem dias amenos de primavera. Uma afronta para a dona, que se tapa com camadas e camadas de trapos, como uma cebola velha ou uma velha encebolada. O outro, mais magro e despido, compreende-me bem, e enrola-se, qual pescadinha de rabo na boca, feito gato, à espera que passe o suplício.
A consciência grita-me, Mexe-te, vai trabalhar, que aqueces num instante. E eu mando-a calar e atiro-lhe com um cobertor para cima, a abafar-lhe a voz. Ela aproveita para tapar-se e desiste, encostando-se à minha preguiça, à procura de algum calor que lhe devolva a voz paralisada.
Sem comentários:
Enviar um comentário