Há frutos e tradições que nos tiram da chuva e nos resgatam do frio. Têm um sabor e um aroma que nos confortam como uma longa carícia nos cabelos. Um abraço sentido que nos entra na pele. O perfume das castanhas assadas, daquela névoa de fumo que se dispersa pelas ruas e praças, faz-me cerrar os olhos, inspirar profundamente e viajar até à minha infância. Aos tempos em que as castanhas vinham embrulhadas em folhas das Páginas Amarelas, sem ASAE nem azar. Era uma sorte poder parar, tirar as moedas de escudo e comprar uma dúzia delas ao vendedor, de mãos chamuscadas e pele curtida, de tanto sacudir a vasilha de barro e lidar com o calor das brasas. Hoje é dia de acender a lareira, ao serão. Abrir uma garrafa de vinho tinto (fujo da tradição da água-pé, que não aprecio) e preparar as castanhas numa vasilha comprada no José Franco, o ceramista de Mafra. Comam-nas, quentes e boas, sem pressas nem pruridos, que a vida são dois dias. E não se esqueçam de brindar ao S. Martinho, a bem da generosidade e da esperança em dias de sol, quando vivemos tempos tão cinzentos.
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