sábado, 19 de novembro de 2011

Lendo...

Renoir amava a irregularidade. Odiava os compassos, que desenham circunferências perfeitas, tudo o que fosse perfeito. A perfeição estava na imperfeição. A arte era encontrada na individualidade de cada elemento natural: uma laranja (que não é perfeitamente redonda), cada gomo irregular e único dessa laranja, ou uma folha de árvore, distinta de todas as outras folhas; um rosto que nunca é simétrico e que por isso o fascinava. 

"Deus, o rei dos artistas, era desajeitado."

"Quanto mais se recorre a boas ferramentas, mais desinteressante sai a escultura"

Renoir detestava o luxo e o artifício; os espartilhos das senhoras e os seus pés enfiados em sapatos apertados, de ponta fina. Respeitava o rústico em detrimento da elegância, uma face rosada e um corpo roliço, ao invés de uma tez pálida ou uma cintura estreita de mulher que se priva dos prazeres da mesa. Preferia uma sala simples e nua, sem a inutilidade dos bibelots. Não confiava na luz eléctrica para trabalhar e quando o sol enfraquecia, guardava as suas tintas. Sentia-se agradecido e abençoado por gostarem dos seus quadros e darem dinheiro por eles, uma vez que pintar era para Renoir, acima de tudo, uma necessidade e um divertimento. E defendia que o que valia a pena captar se encontrava na natureza, naquilo que Deus criou. Olhar era o bastante. Olhar até nos tornarmos apreciadores. Defendia que o artista devia procurar fora dele os seus motivos, pois nada havia a inventar:

"O artista que menos usar aquilo a que se chama imaginação, será o maior."

Sempre foi de uma modéstia que a todos desarmava, pois considerava-se um operário em trabalho e evolução constantes. 

"Se o artista sabe que tem génio, está perdido! A salvação está em trabalhar como um operário e não tentar dar nas vistas."

Isto e muito mais estou a aprender na biografia escrita por um dos filhos, o cineasta Jean Renoir, que nos revela um homem digno de conhecer - não só pelos quadros e desenhos que nos deixou - mas como amigo, pai, homem. Ao mesmo tempo que sou transportada para a sua época, que atravessou revoluções políticas, sociais e artísticas. leitura imperdível: "Pierre-Auguste Renoir, Meu Pai", Editorial Bizâncio.

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