Há um excesso de tudo que me cansa, a banalização do que era único. Famintos, acabamos num imenso desperdício, enquanto a sabedoria nos chega reproduzida, até ao infinito, em frases dispostas em verso na forma de pps, ou colada em quadradinhos virtuais, enfeitada com aspas e nomes famosos, para que nos sintamos seguros. Perdemos a noção da verdade, a linha que a separa da mentira infinitamente duplicada. Palavras, imagens, sentimentos de alívio, revolta, alegria, nostalgia...confissões de estados de alma, dos gestos de todos os dias, do que comemos e bebemos, o registo das nossas horas, da respiração, dos anseios e dos medos...a partilha, sempre a partilha de tudo junto de todas as almas disponíveis e, não esqueçamos, a divulgação de tantos projectos, tantos que é para qualquer um impossível a todos socorrer: Vejam o que eu sou capaz de fazer, Venham, aplaudam-me, preciso de alguém - dizemos -Venham dar sentido aos meus passos.
E pelo meio do exagero de tudo o que foi partilhado, ainda vão cintilando algumas pérolas de luz, que se destacam entre o caos. Serão as mais certas? Não sei, já não sei nada, ando perdida nesta imensidão. Será que estamos mais juntos, realmente? Ou será que, de tão sós, como náufragos, nada mais nos resta do que ir devassando intimidades, enquanto buscamos salvação?
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