sábado, 18 de janeiro de 2014

Naufrágios

O frio tomou conta de tudo, Lisboa cobriu-se de granizo. E aqui, a cinquenta quilómetros da capital, escrevo com uma das melhores invenções de todos os tempos: luvas para teclado de computador. A Bolota dorme ao meu lado, arrumada na posição de pescadinha-de-rabo-na-boca, como é típico dos cães, aconchegada na sua cama com padrão do Winnie de Pooh. O Gastão ficou lá fora: desconcentra-me, é serra da estrela, ele que se aguente com o frio, que para ele é um ligeiro desconforto, enquanto que, para nós, fémeas friorentas, é um suplício. 
A escrita do segundo volume avança e eu atrevo-me a pensar que, se continuar a bom ritmo, trabalhando regularmente e começando a levar isto da escrita mais a sério, sou bem capaz de conseguir terminá-lo ainda este ano. Há muito que reúno material para a continuação da trilogia. E agora, enfim, retiro a poeira ao esqueleto de um novo livro. 
Escrever dá muito trabalho, exige silêncio e solidão. Mas é a única forma de encontrar a paz. A cada vez que deixo o tempo e o ócio escorrer-me pelos dedos, sinto-me náufraga num oceano de águas lisas: para onde quer que olhe, nada encontro. Tudo me é distante. Recomeçar a escrever, pegar na ponta do novelo há muito abandonado, é ver surgir, do fundo das águas, uma arca do tesouro, cintilando, uma caravela, uma sereia, um cardume irrequieto de mil cores, uma aldeia de corais enfeitiçados, qualquer coisa que nos fascina e seduz. E só então entendo que esteve sempre ali, à minha espera, inteiro, aguardando o dia em que eu, naufragada, me libertasse da âncora que me prendia e fosse puxar, até mim, o cabo que me liga a uma velha história que tenho de contar.  

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