sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Fontes do imaginário

Mergulhada na escrita do segundo volume d'A Ilha de Melquisedech, torno a abrir o livro "Deuses, Mitos e Lendas", da autoria de Jorge Campos Tavares e edição da Lello & Irmão Editores, que comprei em 1992 (escrevo sempre o nome e a data nos livros, uma mania minha) e que tão útil me foi em 2004, quando andava na fase de pesquisa para o primeiro volume desta trilogia.
Partilho convosco o início do prefácio, que ilustra bem a importância de uma temática que me apaixonou desde então, inspirando-me uma boa parte deste meu trabalho:

«Todas as Civilizações, mesmo as mais primitivas, têm as suas lendas, os seus deuses e os seus mitos, pois o Homem parece não poder viver sem o suporte de crenças e das mitologias que se criam à volta dessas crenças.
A nossa Civilização, a chamada Civilização Cristã Ocidental herdeira das Civilizações Clássicas, e da Judaico-Cristã (e de certo modo da Fenícia, da Etrusca, da Celta e da Germânica) tem um fabulário muito rico em histórias e personalidades fantásticas. Se algumas delas são originais, outras assemelham-se às concebidas por povos diferentes ou por culturas distantes que viveram noutros tempos, confirmando de certa forma o aforismo de que nada há de novo sobre a Terra.
As mitologias dos Povos de que a nossa Civilização é a continuidade, estão povoadas por personalidades fortemente caracterizadas, que se enredam em aventuras prodigiosas, e depois se debatem em situações que aparentam ser fruto de devaneios, de sonhos ou até de pesadelos - num mundo de fantasias muitas vezes sem nexo.
Esta aparência é porém ilusória.
Todos os elementos destes mitos reflectem uma concepção da Vida, uma maneira de entender e lidar com o Mundo, uma forma de transmitir conhecimento, uma maneira de enfrentar as realidades, já que certos valores universais se expressam muito melhor e mais claramente sob a forma de lendas mitológicas do que doutro modo. Por outro lado, estão implícitos nessas fábulas processos que têm que ver com o psiquismo dos indivíduos e o sentir colectivo das comunidades, processos que têm incidência no foro íntimo de cada um.
Sucede que artistas plásticos, poetas e dramaturgos, têm recorrido, ao longo dos séculos, ao acervo legado pelas mitologias do passado a fim de tirarem daí matéria-prima para se exprimirem, para conceberem e construírem as suas obras - fenómeno que, em vez de esgotar a força anímica desses mitos, lhes renova a vitalidade e a importância.»

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