sexta-feira, 13 de junho de 2014

Desejo

Sabe que a escrita é como o ritmo a que respira o desejo do seu corpo: quanto mais, mais; quanto menos...menos. Esse corpo que, esculpido em abandono, há muito desistiu do desejo, para não chorar. A carne inteira, a pele, deixando de pertencer-lhe, o músculo flácido, atrofiado, é incapaz de sustentar a ideia do prazer. A ideia. Ela risca o corpo, arrisca o texto, grita o sexo. O corpo perdeu o caminho até à história que é forçoso percorrer, palavra a palavra.
A letra agora mais incerta, ilegível, à medida que a ideia vai tomando forma, se definindo. Quanto mais enlouquece a sua caligrafia, mais lúcido é o pensamento. Uma o avesso do outro.
Recorda que Fernando Pessoa nasceu hoje, em 1888. Hoje, dia de estranhas conjugações. Lua cheia, sexta-feira treze...e Pessoa renascendo para nos dar consolo e sentido.
O corpo vai despertando e o traço da letra estende-se com langor.
São unos, enfim. O corpo e o desejo.
Só assim, na embriaguez do desejo, é capaz de escrever.
De contrário, as palavras nada diriam.
E há tanto para dizer...

6 comentários:

  1. Tão, mas tão bom... É isto tudo.

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  2. Podias escrever um livro melhor do que os autores da actualidade. Opiniões não as peças, pois estarias a deixar de ser tu própria. Não sei mais que dizer, parece que há duas Veras.....

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  3. As pessoas só comentam a 'palha', no que toca à tua escrita.....

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  4. E tu, minha querida amiga, tens tanto para dizer escrevendo; tanto para revelar, porque a palavra também é um corpo que grita consumado no desejo que é acto.
    Tu escreves pró mundial, mulher! ;-)
    Beijinho

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