domingo, 1 de junho de 2014

Dia da Criança

O COELHINHO CHOCOLATE

Era uma vez um coelhinho anão.
 Parecia um gelado de nata e chocolate, pois o seu pelo era todo malhado, castanho e branco.
        Vivia num pequeno jardim guardado por um grande cão bonacheirão, chamado Castanho. O cão parecia-se um pouco com ele: também era castanho e branco, apesar de ser muito maior.
   O coelhinho passeava-se livremente por ali, uma vez que os seus donos o tratavam como se fosse da família: não lhe faltavam as cenouras; brincava com o Castanho dando-lhe dentadinhas no rabo e fugindo logo de seguida, saltitando em direcção aos arbustos; passava o serão ao colo da D. Ermelinda, que lhe ia fazendo festas, enquanto conversava com o marido, frente à lareira…enfim, era um coelho feliz, que levava uma vida regalada.
     Numa linda manhã de Abril, o Sr. José decidiu pintar a casota do Castanho, cuja madeira velha estava já muito feia. Agarrou no chapéu e foi às compras à aldeia, na sua carrinha branca. Apareceu pouco depois com várias latas de tinta de água, pousou-as na relva junto à casota e abriu-as: uma branca, outra amarela, outra ainda azul mesmo-mesmo da cor do céu e, finalmente, uma vermelha. Quando ia começar a obra, disse para com os seus botões:
"Ora ora, o que me calhava mesmo bem agora, era uma cerveja fresquinha!" – Porque estava imenso calor. Como a D. Ermelinda estava longe, na cozinha, a fazer um bolo para a filha e para os netos, que estavam para chegar, resolveu levantar-se e ir ele mesmo buscá-la.
    Passados instantes, chegou o coelhinho, atraído por aquele cheiro novo  de tinta fresca. Ao ver as cores a brilhar ao sol, achou-as bonitas. Aproximou mais o focinho e os bigodes para espreitar e... Ops, asneira! Entornou duas latas de tinta! O azul e o amarelo espalharam-se por todo o lado e arranjaram uma cor nova:
      Qual era? O verde!
   Ficou muito espantado com o que tinha arranjado e não resistiu a espreitar melhor as outras cores: empoleirando-se com as patas na lata vermelha, pumba! Fez asneira outra vez! Ela tombou e o coelho Chocolate, com o peso, desequilibrou-se e foi cair em cima da lata de tinta branca! Agora é que a tinha arranjado bonita! Estava tudo entornado e, ainda por cima, cada vez que saltava, as suas patas deixavam marcas… …. Cor-de-rosa!
  Nesse momento, curiosos com a confusão que reinava no jardim, chegaram o Castanho e o Sr. José, a correr:
"Chocolate! O que é que me foste arranjar?! Olha bem para isto, sim senhor, lindo serviço!" - ralhou o Sr. José.
O Coelhinho olhou para ele com os olhos maiores e mais doces que sabia fazer, para não apanhar uma palmada. Era preciso ver aquela confusão de cores! O Castanho, todo satisfeito por ver o jardim mais colorido do que nunca, juntou-se ao Coelhinho Chocolate, lambeu-o e ficou com a língua pintada; depois, com a cauda a abanar, espalhou mais tinta por todo o lado. Agora havia roxo, castanho e cor-de-laranja também! Até as flores do jardim ficaram com as suas cores trocadas!
     Pensam que a D. Ermelinda se zangou quando, ao chegar, viu aquela confusão? Estão enganados! Como era uma senhora muito bem disposta, não conseguiu conter o riso e desatou às gargalhadas. E o riso, que se pega como os bocejos e a tosse, contagiou o Sr. José, que acabou por rir também, e nem ficou zangado, pois reparou que o que sobrara nas latas ainda daria para fazer o trabalho.
"Ai, que eles estão quase a chegar!" - Exclamou a D. Ermelinda, pondo-se séria de repente - Vá, toca a tomar banho, seus marotos, antes que essa tinta seque!"
     O que valeu a todos, é que a senhora adiantara trabalho, como era seu hábito, e, assim, dispôs de tempo para aquele imprevisto. Pegou no Chocolate e foi dar-lhe uma boa ensaboadela na banheira, com água morna. Quanto ao Castanho, foi lavado ali mesmo no jardim, com a mangueira, para aprender a ficar quieto! O Sr. José esfregou-o bem esfregado com um champô especial, até ficarem apenas as suas cores: castanho e branco.
    Ao fim da tarde, a D. Ermelinda abriu a mesa no jardim, fez laranjada para as crianças e chá para os adultos, a acompanhar as grandes fatias de pão e de bolo de chocolate.
   Por falar em chocolate, onde ficou o coelhinho? Ah, esse ficou amarrado ao poste, de castigo! E o seu amigo Castanho, que detestava tomar banho, passou o resto do dia muito sossegado e um pouco amuado com o dono, que o lavara com água fria. No entanto, nessa noite, já poderia dormir regalado, na sua linda casota, que estava agora como nova, pintada com as sete cores do arco-íris! Frente à porta podia ler-se:

                        "CUIDADO! PINTADO DE FRESCO!"

(Vera de Vilhena, texto inédito. Dedico esta história a todos os pequerruchos)

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