terça-feira, 17 de junho de 2014

Terra

A feira do livro terminou, as notícias falam em cerca de quinhentos mil visitantes. Passou o calor terrível, o dia esteve perfeito. Ao fim da tarde o homem andava de enxada (ou ancinho ou lá o que é) a arrancar as ervas indesejáveis; o Gastão deixou-se ficar deitado no cimo das escadas de pedra, admirando e estudando o movimento detectável nos seus domínios: o vale. Arfando, um pouco aliviado por andar descartando, desde Março, a sua pelagem de serra da estrela: ainda assim, é um animal imponente, de juba e corpanzil consideráveis. A Bolota jogou à bola (nova, comprada na Inter Sport no dia da sessão de autógrafos no Oeiras-parque): uma bola novinha em folha, que a deixa tão excitada, que nem se lembra de comer: recorda-me o esquilo da Idade do Gelo, com a sua bolota (nem de propósito, tratando-se da Bolota, a nossa cadela). Quando sentiu o cheiro verde e fresco, juntou-se a mim: a dona ali estava, sentada com duas cadeiras e duas tigelas, descascando vagens de ervilhas acabadinhas de apanhar da terra. Volta e meia, lá saltava uma para a sua bocarra. Tenho uma cadela que se pela por ervilhas cruas, vá-se lá perceber. Não pude deixar de experimentar uma, para compreendê-la. E compreendi. Assim mesmo, da mão para a boca, soube muitíssimo bem. Amanhã será a vez dos pinhões, também acabados de apanhar.
É nestas horas que eu tenho a certeza de valer a pena o contacto com a terra. É certo que lá em cima, no escritório, alguns emails me aguardam, há novas notificações no facebook e à noite irei ver, na box, os primeiros episódios de uma série que recebi em DVD. Mas é assim, este casamento perfeito entre a terra e o futuro, que nos faz felizes. O melhor dos dois mundos.

1 comentário:

  1. És uma privilegiada e quem ganha somos nós, os teus leitores. É tão inspirador poder "partilhar" essa vivência de paz. Obrigada, amiga!

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