segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Mentira

polígrafo
Mentira

Tantas camadas sobre cambadas sobre camadas,
Que já não é possível ver a matéria original;
Tantos sorrisos sobre risos sobre sorrisos;
Que já não consigo chorar.
Tanta mentira sobremaneira sobre mentira,
Que me tornei incapaz de dizer a verdade;
Tanta pose sobre posse sobre pose,
Que é impossível gritar, Fui possuído!;
Tanto muro sobre esconjuro sobre muro,
Que já não encontramos a raiz;
Tanto artifício sobre malefício sobre artifício,
Que já não sentimos a nossa pele;
Tanto que fingimos que conseguimos dizer,

Que é impossível a arte articular.

(© Vera de Vilhena, poemas inéditos)

3 comentários:

  1. Tantas palavra e tanto silêncio nas entrelinhas...
    Beijo.

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    1. E só com a notificação deste teu comentário me apercebi de que tinha escrito e publicado o que foi, para mim, um desabafo. A escrita tem destas coisas. O pior já passou, ficam os versos. Obrigada, Graça, beijo

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  2. Esta mentira é muito verdade. Beijinhos Vera

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