Há coisas incompreensíveis. Uma delas é isto de engomar. Os panos multiplicam-se, por mais que cuidemos deles. É um ritual estúpido e interminável: usar, sujar e amarrotar, lavar, pendurar, retirar, engomar, guardar, retirar, usar, sujar…o melhor é nem pensar no tempo de vida que perdemos a tratar dos trapos. Hoje, enquanto engomava durante horas a fio até ver o fundo ao cesto – naquele estado de aparvoamento de quem repete, inutilmente, gestos cujos resultados irão durar tão pouco – pensava no tempo que já perdi da minha vida: se calcular cerca de 4 horas por semana e multiplicar pelas semanas que tem o ano, chego às 212 horas. O que significa que “passamos” 9 dias da nossa vida. E para quê? Porquê? Porque há mais de um século se convencionou que os trapos que usamos não podem ter vincos, é feio. É que é um trabalho perfeitamente estúpido, estar horas ali, a passar o ferro para a esquerda e para a direita, até que a roupa fique lisa, quando sabemos bem que horas ou dias depois iremos amarrotá-la toda outra vez. Odeio pensar que perco anualmente nove dias da minha vida a engomar. É que nem sequer dá gozo. Porque há coisas que dão trabalho, mas dão gozo, não é? Se andássemos todos amarrotados, já não parecia mal e já viram a quantidade de coisas úteis, mais inteligentes ou aprazíveis a que poderíamos dedicar-nos durante nove dias?
Poderão perguntar-me: se detestas assim tanto engomar, porque é que não pagas a uma empregada? Porque é um luxo ao qual não me posso dar, como é óbvio. E nos tempos em que posso, vai dar ao mesmo, ou não vai? 4h/semana a multiplicar por 24 ou 32 euros, dá 1272 ou 1696 euros por ano. Agora pensem bem no que poderiam fazer com esse dinheiro, sem ser pagar a alguém para vos engomar a porcaria dos trapos…
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