Durante uns dias perdi a vontade de escrever. Talvez a vontade estivesse de luto, por Saramago. Se escrevemos é, em grande parte, graças aos livros que lemos. Não se escreve sem ler. Escrevemos como pensamos e o pensamento vai-se formando através de muitas leituras. Escrever não é fruto de uma inspiração divina, mas das interrogações que nascem dentro de nós; do fio dos nossos dias, que vamos vivendo; de uma urgência em traduzir em palavras as histórias que desejamos partilhar com os outros. Histórias, personagens, reflexões, valores, lugares, tempos, recordações, fantasias. Escrever é também fruto de muito trabalho. Um prazer que se renova, como um imenso pomar. Escrevemos para que gostem de nós, para que provem o sumo do que somos capazes, como crianças impacientes que puxam pela manga dos outros, exclamando: "Vejam! Vejam o que eu sou capaz de fazer!". Escrevemos, porque somos vaidosos. Todos os artistas são vaidosos. Ninguém deseja escrever eternamente para a gaveta, da mesma forma que uma bailarina se cansa do espelho de uma sala de ensaios e sonha pisar os grandes palcos do mundo, com a leveza dos seus pés. Vejam o que somos capazes de fazer.
Escrevemos, porque há uma qualquer força que nos empurra para as palavras e é preciso que as saibamos segurar quando ela nos procura; ter o músculo bem tonificado; merecer a companhia inesperada da inspiração.
Saramago, com a textura única dos seus livros, contribuiu para que eu fosse tecendo a minha própria textura: um tecido translúcido e macio, de recantos enrugados e frágeis, que vou aprendendo a serzir. Terei saudades dos livros que não chegou a escrever. Os outros, os que ficaram, serão como familiares queridos que visitamos ao Domingo, em encontros festivos que enchem os nossos álbuns de saudosas memórias.
Querida Vera.
ResponderEliminarHomens, escritores como Saramago não morrem se eternizam, para tê-lo basta reler sua obra, quanto a tua falta de motivação já passou no momento que escreveu este tocante artigo. Você é brilhante com as palavras, mas, você sabe e quem sou eu para dizer-te isto.
Beijo
Renata. Alegria nestes lindos olhos, Vera, alegria...
Brilhante?! Que exagero, querida Renata! :D
ResponderEliminarMuito obrigada pela doçura de sempre.
Olá Vera. Bom Dia :-)
ResponderEliminarNeste teu texto escreveste exactamente o que eu penso sobre a escrita e sobre a vontade de escrever. Por estes dias também a minha capacidade de juntar palavras se encontra esmorecida e aparentemente incapaz, mas se quero continuar, não me posso abater!
Um beijo
Bom dia, homónima! :D
ResponderEliminarÉ isso mesmo, ânimo e determinação!
Beijos
Vera
Olá Vera:
ResponderEliminarOs seus alunos já lhe vão conhecendo um pouco o jeito e o sentir, Obrigada, Vera por partilhar connosco o que vai sabendo. Sinto-me uma leitora bastante preguiçosa e, passe esta barbaridade, não me lembro de ter relido nenhum livro,embora tenha os meus preferidos, Como sabe estou a fazê-lo, relendo e redescobrindo com surpresa a "História do Cerco de Lisboa" , em homenagem a José Saramago, para responder ao 6º exercício. Mergulhei também na edição especial da Visão/JL para o sentir mais próximo da minha vida e das minhas preocupações: "No fundo não invento nada,sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se por vezes me saiem monstros". É bom recordá-lo como alguém que atingiu sabedoria e serenidade e que alguns recordam como uma pessoa feliz... Gostei de saber que era escoropião e que gostava de salada de frutas! Para sábado mandou-lhe este recado: "Se podes olhar,vê. Se podes ver, repara". Espero ao menos tê-la feito sorrir. Um beijo da Ana
Olá Ana! Não me agradeça, quando me faz feliz. Cada gesto interessado vosso é como um eco da minha vontade. É pena o tempo das aulas voar tão depressa, mas é sinal evidente de muito entusiasmo.
ResponderEliminarFiquei curiosa em relação a essa edição especial da Visão/JL, que não conheço.
Quanto a sábado (a minha 1ª aula de desenho!), lamento informar que eu olho...mas dificilmente vejo, pois os meus olhos físicos já passaram um mau bocado e têm muitas limitações. Verei o que puder, desenharei o que conseguir ver. Será o meu olhar, sem dramas. Para mim, a distância transforma tudo em fantasmas: mas se é isso que vejo, serão fantasmas que irei desenhar.
Beijos,
Vera