quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Marés

Maré cheia, maré vazia, quarto minguante, crescente, lua nova, lua cheia. A nossa vida já vem assim, bem traçada na respiração das marés, nas metamorfoses desse corpo de mulher celeste, na dança regular e ilusória do sol. Somos nós que dançamos, inconcientes desse lento carrossel que nos altera o humor, que faz oscilar as nossas vontades, que nos deixa lúcidos ou embriagados, que nos adormece ou inspira, ao sabor das estações e dos elementos, da chuva, do nevoeiro, da tempestade, dos aguaceiros, dos dias iluminados, das tardes ardentes, das noites amenas do estio mais generoso.
Os dias que temos dentro são feitos de matéria celeste, tecidos na inconstância constante da lua, no vaivém das marés, na coreografia do girassol que habita o telhado imenso do mundo; e tão verdadeiro é o ditado que diz, Não há mal eterno nem bem que não esmoreça, como isto, de sermos estrelas minúsculas cintilando hoje, invisíveis amanhã, quando nos oculta o manto da noite num céu vestido de nuvens. Brilhando ou não, existimos sempre, mesmo como estrelas cadentes, decadentes, ou exaustas, porque um novo dia puxa o lustro ao nosso corpo e faz-nos brilhar outra vez.

Imagem: Nanã Sousa Dias

1 comentário:

  1. o teu melhor texto! como sempre repleto de boas imagens! como gosto da tua escrita! mil beijos, isabel

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